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Sinopse

A velha questão dos lugares e da sua relação, directa ou indirecta, com o que neles, ou a partir deles, se escreve, assume no caso de Llansol contornos radicalmente diferentes dos mais habituais. Como mostram muitos dos fragmentos que se podem ler neste livro, os lugares de Sintra (incluindo aí a experiência dos dez anos de Colares) que para ela apelam não são os mais óbvios e expectáveis. Longe disso, trata-se quase sempre de uma geografia muito pessoal, em consonância com um universo de escrita singular e um modo de estar no mundo a contrapêlo dos lugares-comuns que o cristalizam. São muitas vezes lugares em que ninguém repara (se este texto não alertar para eles), lugares sem nome que desencadeiam torrentes de escrita, encontros insólitos, micronarrativas inesperadas – o «Pinhal» em Colares, as ruas, as pessoas, os gatos anónimos, o plátano nomeado de «Grande Maior» ou a «Vivenda Anna» em ruínas, em Sintra. Outras vezes a Vila e os seus lugares emblemáticos libertam a imaginação e as mais inesperadas associações, produzindo peças de escrita visionária, no sentido literal do termo: antecipatória, criadora de mundos alternativos, intensamente imagética – como sempre o fez a escrita de Maria Gabriela Llansol.

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Autor

Maria Gabriela Llansol

Escritora portuguesa de ascendência espanhola, nascida no ano de 1931 em Lisboa. Licenciou-se em Direito e em Ciências Pedagógicas, tendo trabalhado em áreas relacionadas com problemas educacionais. Em 1965, abandonou Portugal para se fixar na Bélgica. Regressou há alguns anos a Portugal. Considerada uma autora cuja escrita é hermética e de difícil inteligibilidade para o leitor comum, é, no entanto, apontada por muitos como um dos nomes mais inovadores e importantes da ficção portuguesa contemporânea. A sua carreira literária iniciou-se com Os Pregos na Erva (1962), obra que inaugurou uma nova forma de escrever, embora estruturalmente se assemelhe a um livro de contos. Publicou de seguida Depois de os Pregos na Erva (1972), O Livro das Comunidades (1977), A Restante Vida (1983), Na Casa de Julho e Agosto (1984), Causa Amante (1984), Contos do Mal Errante (1986), Da Sebe ao Ser (1988), Um Beijo Dado Mais Tarde (1990), com evidentes ressonâncias autobiográficas, Lisboaleipzig 1: O Encontro Inesperado do Diverso (1994), Lisboaleipzig 2: O Ensaio de Música (1995), Ardente Texto Joshua (1998) e Onde Vais Drama Poesia? (2000).

No caso de Maria Gabriela Llansol dificilmente se podem aplicar designações tradicionais como conto, romance ou mesmo diário. Apesar de se detetarem elementos tradicionais da narrativa, as suas obras, mais do que narrativas, são conjuntos de pequenos quadros e meditações. A ação localiza-se geralmente na Alemanha ou em regiões próximas, nos primórdios do Renascimento, num ambiente fantástico em que à volta de Copérnico, Isabol ou Hadewijch se movimentam personagens inspirados em pensadores místicos como San Juan de la Cruz e Eckhart e filósofos como Nietzsche e Espinosa.

Os diários Um Falcão em Punho (1985), considerado o ponto de viragem no que toca à cada vez maior inteligibilidade da sua escrita, e Finita (1987), distinguem-se das obras ficcionais pela sua aparente ordenação cronológica e pelas reflexões sobre a conceção materialista em que se baseia a mística e a poética da autora.

Um dos traços mais marcantes de toda a sua produção consiste na constante negação da escrita representativa, com inserção no texto de diferentes caracteres tipográficos, espaços em branco, traços que dividem o texto, perguntas de retórica, aspetos que contribuem para a sensação de estranheza que os seus textos provocam.

Levando às últimas consequências a criação de um universo pessoal que desde os anos 60 não tem paralelo na literatura portuguesa, a obra de Maria Gabriela Llansol faz estilhaçar as fronteiras entre o que designamos por ficção, diário, poesia, ensaio, memórias, etc.

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