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Sinopse

"A escrita de Maria Gabriela Llansol inscreve-se em livros que "crescem" uns nos outros, num movimento ondulatório de eternos começos - O começo de um livro é precioso. "Muitos começos são preciosíssimos. / Mas breve é o começo de um livro ____ mantém o começo prosseguindo. / Quando este se prolonga, um livro seguinte se inicia". Quem lê, vai elevando os olhos para uma cúpula por onde se dispõem as diferentes figuras do universo llansoliano - Témia, Eckhart, Ana e Myriam, João da Cruz, Prunus Triloba, Spinoza, Bach, Rilke, Vergílio Ferreira, Dom Arbusto, Elvira, o cão Jade ou Trova, o Literatura, o Arrábido - num "estético convívio" com as diferentes formas da linguagem. O percurso deste novo livro faz-se no tempo e no espaço, porque o que nos é dito em cada uma das 365 estâncias (dias) insere-se em lugares (páginas) que respiram ou branco ou imagem - os desenhos de Ilda David', "com" os quais se faz a leitura do livro. MGL afirmava numa entrevista, em 1995 "Creio que é uma dádiva muito grande que se faz ao texto de um outro: construir-lhe silêncio à volta". Neste livro, os desenhos de Ilda David' parecem "dar a ver" esse silêncio que fala; abrem "clareiras de respiração" no caminho para uma "língua sem impostura" e celebram, com o texto, o contrato da "mútua não-anulação", da "liberdade de consciência" e do "dom poético". Texto e imagem dialogam um com o outro, sofrem mutações na leitura, e despertam no "legente" o desejo do encontro com esse desconhecido que o chama e atrai ("Procura a página que te fala"), que o sossega e perturba ("___ Do fim para o princípio lê-se de uma maneira; / Do princípio para o fim lê-se de outra."), que lhe mostra como o caminho da leitura se faz na atenção que não separa "ver e ler" ("Há uma leitura a fazer, na jarra e em todos os lugares / Da falha. Nesse caminho a descobrir que não finda, / O texto escreve-se nos olhos. A qualidade da imagem / Nua dispõe o real em consequência."; "Ver o que ainda se / Não conhece é uma rara particularidade / _____ que, por vezes, arrasa."). Se falamos em linhagens, quando pensamos em autores / textos que "convergem", também podemos ver linhagens e convergência nas linhas de um texto e nas de um desenho que o acompanha. Nessa "sobreimpressão" consolidam-se identidades, ainda que não se procure saber "quem sou" mas "quem me chama" ("escrever é aceitar que o chamamento, / Vindo de longe, transforma - Ninguém em cada um de / Nós -, à medida que se aproxima."). O texto chama a imagem, a imagem chama o texto, e cada um é um ser ímpar nesse elo ("Magníficos os espíritos / Que se cruzam sem espada / E com bondade. Grande / A generosidade / Que os habita."). O texto pensa, faz perguntas, e o desenho responde e lança novas questões, num eterno começo. Quem lê encontra-se num Lugar privilegiado - o de quem pode ver / ler a intensidade do "ambo texto-imagem". O texto de MGL e os desenhos de Ilda David' formam esse ambo, são figuras que "pertencem ao tronco de uma mesma vibração"".

Etelvina Santos

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Autor

Maria Gabriela Llansol

Escritora portuguesa de ascendência espanhola, nascida no ano de 1931 em Lisboa. Licenciou-se em Direito e em Ciências Pedagógicas, tendo trabalhado em áreas relacionadas com problemas educacionais. Em 1965, abandonou Portugal para se fixar na Bélgica. Regressou há alguns anos a Portugal. Considerada uma autora cuja escrita é hermética e de difícil inteligibilidade para o leitor comum, é, no entanto, apontada por muitos como um dos nomes mais inovadores e importantes da ficção portuguesa contemporânea. A sua carreira literária iniciou-se com Os Pregos na Erva (1962), obra que inaugurou uma nova forma de escrever, embora estruturalmente se assemelhe a um livro de contos. Publicou de seguida Depois de os Pregos na Erva (1972), O Livro das Comunidades (1977), A Restante Vida (1983), Na Casa de Julho e Agosto (1984), Causa Amante (1984), Contos do Mal Errante (1986), Da Sebe ao Ser (1988), Um Beijo Dado Mais Tarde (1990), com evidentes ressonâncias autobiográficas, Lisboaleipzig 1: O Encontro Inesperado do Diverso (1994), Lisboaleipzig 2: O Ensaio de Música (1995), Ardente Texto Joshua (1998) e Onde Vais Drama Poesia? (2000).

No caso de Maria Gabriela Llansol dificilmente se podem aplicar designações tradicionais como conto, romance ou mesmo diário. Apesar de se detetarem elementos tradicionais da narrativa, as suas obras, mais do que narrativas, são conjuntos de pequenos quadros e meditações. A ação localiza-se geralmente na Alemanha ou em regiões próximas, nos primórdios do Renascimento, num ambiente fantástico em que à volta de Copérnico, Isabol ou Hadewijch se movimentam personagens inspirados em pensadores místicos como San Juan de la Cruz e Eckhart e filósofos como Nietzsche e Espinosa.

Os diários Um Falcão em Punho (1985), considerado o ponto de viragem no que toca à cada vez maior inteligibilidade da sua escrita, e Finita (1987), distinguem-se das obras ficcionais pela sua aparente ordenação cronológica e pelas reflexões sobre a conceção materialista em que se baseia a mística e a poética da autora.

Um dos traços mais marcantes de toda a sua produção consiste na constante negação da escrita representativa, com inserção no texto de diferentes caracteres tipográficos, espaços em branco, traços que dividem o texto, perguntas de retórica, aspetos que contribuem para a sensação de estranheza que os seus textos provocam.

Levando às últimas consequências a criação de um universo pessoal que desde os anos 60 não tem paralelo na literatura portuguesa, a obra de Maria Gabriela Llansol faz estilhaçar as fronteiras entre o que designamos por ficção, diário, poesia, ensaio, memórias, etc.

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