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Sinopse
Ana Rita Gonçalves: «No Ecce Homo do MNAA não se medita num primeiro momento sobre a história, mas apenas e unicamente acerca da imagem de Cristo que, depois de zombado e humilhado, se coloca perante nós. Preso e vulnerável é como se fosse um entre todos, numa tradução magistral do humano marcado com a presença do divino.»
De cada vez que vejo esta obra — e é sempre a primeira vez —, comovo-me, movo-me na sua direcção e fico à sua frente. Tal é o mote do nosso encontro, o que nos põe em movimento, em comoção partilhada: frente à obra. Hoje, pergunto-me porquê — por que razão esta pintura se insinua ou se impõe a mim (desde a primeira adolescência) com um misto de fascínio e de temor (não digo de adoração nem de terror)? Por que razão ela atrai a minha vista ao mesmo tempo que a retrai? Que dança é esta de atracção e de retracção? Será a dança da vida e da morte na visão? É a vida-morte a ser entrevista?
[…]
Por que razão esta obra me comove tanto, a mim que não sou crente (e que não procuro, portanto, um conteúdo confessional ou um suporte devocional)? A mim que não a sinto como forma ou objecto de conhecimento? Diante desta obra fico sem preparação, frente ao desconhecido. Subitamente, dou de caras com um corpo que se oferece frontalmente, conquanto não se dê a ver na sua totalidade. Eis uma obra que nos expõe cruamente a um face-a-face, a um frente-a-frente com algo (ou alguém) que não podemos conhecer. E no entanto, ao mesmo tempo, desse algo (ou desse alguém) não nos podemos esquivar: somos confrontados com um desconhecido no seio mesmo do reconhecível (e assim o faz, afinal, toda a obra, desde que nos demoremos um pouco à sua frente, e por muito que isso nos possa custar ou ferir).
[Tomás Maia]
A presente colecção reúne as conferências apresentadas no ciclo «Frente à Obra. Arte e Filosofia», que teve lugar no Museu Nacional de Arte Antiga, entre 2 e 7 de Maio de 2022, como resultado de uma colaboração entre o Plano Nacional das Artes, o Departamento de Filosofia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, o Instituto de Filosofia da Nova e o MNAA. Os oradores foram convidados a escolher uma obra do Museu e a propor uma reflexão filosófica na presença da mesma, antecedida por uma contextualização histórica apresentada por um membro da equipa do Museu. A publicação das conferências vem agora a público, entendendo-se como uma partilha e um testemunho das possibilidades que a relação entre a arte, a história e o pensamento abrem a todos nós.
[Maria João Mayer Branco, Paulo Pires do Vale, Tomás Maia]
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