João Appleton convida[-nos] a entrar no universo de Alvalade tal como o sente e habita. Um espaço vivido no tempo, construído a partir da experiência direta de quem cresceu, trabalhou e envelheceu num bairro que é, ao mesmo tempo, cenário e protagonista.

Mas essa entrada no bairro não se faz apenas pela via da memória pessoal. Importa notar que Alvalade Visto por Dentro é mais do que isso: é um olhar atento sobre a cidade, a partir do quotidiano. Um exercício de arqueologia, íntima e reflexiva, que percorre décadas de vida pessoal entrelaçadas com as transformações de Lisboa e do País, entre histórias de infância, formação académica, vida familiar e atividade profissional, desenha-se uma cartografia afetiva que dá forma e sentido à experiência vivida.

[Teresa Valsassina Heitor]

Este livro era para ser apenas um livro de memórias, das memórias de vida de um lisboeta que o acaso trouxe para Alvalade com menos de dois anos de idade e que, neste Bairro, encontrou o seu lugar no mundo, que até hoje nunca abandonou.

Comecei por escrevê-lo como um simples livro em que registo episódios de uma vida igualmente simples, não fácil, de alguém que tem para contar histórias banais, de gentes também comuns, como são aquelas que compõem a maior parte dos sítios e das histórias.

Passadas poucas páginas da escrita inicial, a figura de Duarte Pacheco foi-se tornando tão importante, tão necessária para que eu próprio entendesse em toda a sua plenitude a origem e o significado deste Bairro tão especial, de tal modo que me vi embrenhado na leitura compulsiva de tudo o que encontrei sobre este português, engenheiro e republicano, usando para isso, e desde logo, a minha própria biblioteca, bem como as minhas coleções de postais ilustrados e fotografias.

Foi tão forte o impacto que eu senti desta figura singular, cuja vida e morte estão envolvidas numa espessa camada de dúvidas, erros e mentiras, mistérios sempre e em todo o lado, que acabei por lhe dedicar um capítulo inteiro que não é de memórias, mas sim de notícias, textos e imagens que traduzem factos, que me obrigaram a um trabalho de investigação que não fazia parte, minimamente, do meu projeto inicial.

[João Appleton]