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Detalhes do Produto
- Editora: URUTAU
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- Ano: 2024
- ISBN: 9786559008308
- Número de páginas: 82
- Capa: Brochada
Sinopse
Neste Observatório, como noutras viagens narrativas de Rita Canas Mendes, é preciso ir com cautela. A sua escrita é metódica e ludibriosa. Entramos neste livro de forma imperturbável, conduzidos por narrativas curtas de palavras suaves, com aquele sentido de humor despudorado, aparentemente ingénuo, que traz à ideia um dia de sol com um cocktail junto à piscina. Mas, de súbito, as luzes apagam-se. O ritmo cardíaco acelera e tateamos no escuro um cadáver aberto. Sem darmos por isso, já derrapámos e embatemos nesse inequívoco acidente de crueza e jugulares expostas.
Se, num primeiro momento, achamos que deveríamos ter evitado o impacto, a verdade é que damos por nós agarrados à adrenalina de não querer parar de ver até ao fim — os finais sucedem-se e são curtos, em aberto. Como em qualquer micro-conto que nos arrebata, estendem-se em ecos de um futuro indeterminado.
Nesta viagem ao centro da terra, qual Júlio Verne que se perdeu pelo caminho, descobre-se o inferno, que para nossa surpresa nos traz de tudo, em iguais doses de candura e de crueldade. Perceber, como Rita Canas Mendes escreve, que «até Deus fica sem imaginação, às vezes», conduz-nos ao lugar do precipício; o último reduto de fundamentos como a «compaixão amorosa», onde entendemos, claramente, que «Estamos aqui / e não estamos».
Tal como a nossa voyeur, que participa ruidosamente em silêncio, também nós nos alimentamos de tudo o que queremos ver e, simultaneamente, engolimos em seco depois de tudo aquilo que não queríamos ter sabido.
Entre grãos de arroz, marinheiros de água benta, suicídios falhados e a ideia tão esquecida de que o animal já teve alma, reside neste Observatório uma possível ideia de Humanidade — e talvez os detalhes, um dia, nos redimam.
Francisca Camelo
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