Jorge de Sena (1970), Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis (2005) e, por último, Manuel Resende (2017), todos se debruçaram sobre a tradução da poesia de Kaváfis, num gesto de inconfundível paixão pela obra de um dos mais importantes poetas do século XX. Contudo, reconhecendo a importância e a tradição destas edições, o presente volume reúne toda a poesia de Kaváfis, incluindo mais de uma centena de poemas inéditos em Portugal, pela mão de José Luís Costa. O livro inclui ainda um posfácio de Tatiana Faia, poeta, classicista e tradutora.
RECORDA, CORPO…
Corpo, recorda não apenas o quanto foste amado,
não apenas as camas em que te deitaste,
mas também todos os desejos que por ti
brilharam claros em olhares,
que estremeceram numa voz — e que
algum vão empecilho malogrou.
Agora que tudo faz parte do passado,
quase parece que a esses desejos
de verdade te entregaste — como brilhavam,
recorda-te, nos olhos que te fitavam.
Como estremeciam numa voz, por ti: recorda, corpo.
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Konstandinos Kavafis
K. P. Kaváfis foi um poeta nascido em 1863 em Alexandria, Egito. Filho de mercadores abastados originária de Constantinopla, a família muda-se, após a morte do pai, para Liverpool, em Inglaterra, onde vivem durante cinco anos. De regresso a Alexandria, Kaváfis aí permaneceria o resto da vida, com a exceção de algumas viagens e uns anos em Constantinopla. Trabalhou, durante mais de três décadas, como funcionário dos serviços de irrigação da cidade, posto discreto e monótono. Os seus poemas circularam, primeiro em jornais e revistas, entre um grupo restrito de amigos e admiradores. É apenas em 1904, contava Kaváfis quarenta e um anos, que um grupo de catorze dos seus poemas aparecem editados pela mão do autor. No entanto, a publicação seria alargada, modificada, revista, num processo contínuo nos anos consecutivos, em pequenos cadernos ou folhas soltas distribuídos pelo próprio ou amigos do círculo íntimo, contendo sempre os mesmos poemas: primeiro ordenados por tema, depois por cronologia e acrescidos com algumas dezenas. Nos seus últimos anos circulavam três destes conjuntos, aos quais se acrescentaria uma composição inédita para perfazer os 154 poemas do cânone (publicados em 1935). Após ser diagnosticado com cancro da laringe, perderia a voz, comunicando apenas por sinais e notas rabiscadas em dezenas de papelinhos. Até que veio a morrer na cidade que sempre foi a sua, no dia do seu aniversário, a 29 de abril de 1933.
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