Terão as formas cénicas na contemporaneidade, fortemente influenciadas por todo o tipo de contributos multidisciplinares – performativos, plásticos, coreográficos, visuais, tecnológicos... –, modificado e transfigurado radicalmente a representação do corpo e da nudez em palco? A nudez nos palcos dos séculos XX e XXI não é apenas um gesto estético, é também um gesto político. O corpo domesticado, o corpo maltratado, o corpo oprimido, o corpo opressor, o corpo disciplinado, o corpo dominador, o corpo submisso, o corpo simbólico, profundamente marcado por diferentes dinâmicas históricas, suscita novas interrogações e discussões mais aprofundadas. O que desperta a contemplação desses corpos nus no olhar do espectador? O que produz a exposição de um corpo nu no desenrolar do espetáculo/texto? Ao fazer emergir “outros” corpos, poderá a nudez em cena contribuir para a tão necessária crítica das normas e das identidades?... Estas e outras questões, colocadas a espetáculos e materiais textuais de vários formatos e períodos, conduziram-nos a uma reflexão transversal e trans-histórica sobre o estatuto e a presença do corpo nu nas artes cénicas, e em particular, sobre a forma como podemos pensar, hoje, a nudez que tem vindo a marcar de modo tão evidente a(s) cena(s) contemporânea(s).