Que anda a vida a fazer por aí com a vida do avesso,
porque urina em muros e se despe ao jeito de côdeas
escoiceando o asfalto,
com impulsos divinos, contemplações,
se a única saída que tem para a seta na aljava
é desviar-lhe o alvo, afrouxar-lhe a vertigem
Porque se veste ao jeito de língua lavrando tornozelos,
se a única saída que tem é um desovar pelo ralo,
a água a morrer de sede
e nós, mãos-atadas, borbotando ovos chocos
Que anda a vida a fazer por aí com a vida do avesso,
porque se põe em passos de roda, reflexos de anil,
toda ela feita deusa deslumbrante,
se a única saída que tem para a roupa na corda
é arremessar-lhe vaga-lumes, pequenas abertas
Agora lembrei-me que, depois, morremos por
conta própria.
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Josefa de Maltezinho
Josefa de Maltezinho, pseudónimo de Julieta Aleluia, nasceu no Porto. Com dois anos de idade foi viver para Aveiro, cidade onde permanece até hoje. Professora do Ensino Básico com formação na Universidade de Aveiro, dedicou grande parte da sua vida ao ensino, pelo que só em 2007 resolveu reunir e ampliar todo o trabalho de poesia e prosa feito desde a adolescência até aos dias de então. Amante da leitura e da escrita, foi na extensa biblioteca da família que deu início, em tenra idade, a este namoro apaixonado com os livros e os escritores. Em 2013 publicou o seu primeiro livro de poesia, "Água Corrente", ao que se seguiu, em 2016, numa estreia como romancista, a obra "Maçã Com Bicho". Num retorno à poesia surge em 2017, "Porque Um Rio Também Se Cansa" e, em 2018, em Espanha, numa edição bilingue, "Otoño De Visita". Continuando com a poesia, edita "Uma Garfada De Sol No Umbigo", em 2021, em 2022 "Fracturas Expostas" e em 2024 "Solidão Assistida ou A Brutalidade Do Quotidiano". Pelo meio, conta com muitas participações em Antologias de poesia e prosa poética portuguesas e brasileiras.
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