«Fernando Pessoa – Antologia Poética» é uma abordagem à obra de um dos mais singulares autores do século passado. Pessoa e os seus heterónimos – que surgem da sua tendência “para a despersonalização e para a simulação”, segundo ele próprio – constroem um universo rico em imagens poéticas, começando por uma categórica declaração de intenções: «O poeta é um fingidor». Da sua admiração pelas vanguardas, destacam-se poemas como «Hora absurda» ou «Chuva oblíqua», que vão beber ao intersecionismo, que tanto marcou a sua produção literária. Esta antologia poética completa-se com composições assinadas por Álvaro de Campos, de tipo futurista; Ricardo Reis, de estilo neoclássico; e ainda com o cunho neopaganista que caracteriza Alberto Caeiro, o primeiro dos heterónimos e mestre dos demais. Cada um conta com a sua biografia, rosto, gestos e, inclusivamente, com o seu próprio horóscopo. Estes treze poemas da coleção Treze Luas complementam-se com as “colagens geométricas” de Pedro Proença que, adotando o papel intersecionista do poeta, combina fundos de cores sobre os quais traça desenhos, tipografias e recortes de revistas da época.
«Ilustrar os poemas do Fernando Pessoa exige uma reflexão, porque em Pessoa aquilo a que chamamos Modernidade se faz cheia de movimentos e contra-movimentos, de lógicas internas que são seguidas como silogismos, de um amanhã que não sabemos o que nos traz e da estonteante moda de ontem à tarde. Com Pessoa somos forçados a constatar a complexidade das «subjectivações» e das desinibições da vontade de interiorizar e de singularizar e dos problemas por vezes terríveis da empatia epidérmica com o mundo.»
Pedro Proença
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Fernando Pessoa
Um dos maiores génios poéticos de toda a nossa Literatura e um dos poucos escritores portugueses mundialmente conhecidos. A sua poesia acabou por ser decisiva na evolução de toda a produção poética portuguesa do século XX. Se nele é ainda notória a herança simbolista, Pessoa foi mais longe, não só quanto à criação (e invenção) de novas tentativas artísticas e literárias, mas também no que respeita ao esforço de teorização e de crítica literária. É um poeta universal, na medida em que nos foi dando, mesmo com contradições, uma visão simultaneamente múltipla e unitária da Vida. É precisamente nesta tentativa de olhar o mundo duma forma múltipla (com um forte substrato de filosofia racionalista e mesmo de influência oriental) que reside uma explicação plausível para ter criado os célebres heterónimos - Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, sem contarmos ainda com o semi-heterónimo Bernardo Soares.
Fernando Pessoa nasceu em Lisboa em 1888 (onde virá a falecer) e aos 7 anos partiu para a África do Sul com a sua mãe e o padrasto, que foi cônsul em Durban. Aqui fez os estudos secundários, obtendo resultados brilhantes. Em fins de 1903 faz o exame de admissão à Universidade do Cabo. Com esta idade (15 anos) é já surpreendente a variedade das suas leituras literárias e filosóficas. Em 1905 regressa definitivamente a Portugal; no ano seguinte matricula-se, em Lisboa, no Curso Superior de Letras, mas abandona-o em 1907. Decide depois trabalhar como "correspondente estrangeiro". Em 1912 estreia-se na revista A Águia com artigos de natureza ensaística. 1914 é o ano da criação dos três conhecidos heterónimos e em 1915 lança, com Mário de Sá-Carneiro, José de Almada-Negreiros e outros, a revista "Orpheu", que dá origem ao Modernismo. Entre a fundação de algumas revistas, a colaboração poética noutras, a publicação de alguns opúsculos e o discreto convívio com amigos, divide-se a vida pública e literária deste poeta.
Pessoa marcou profundamente o movimento modernista português, quer pela produção teórica em torno do sensacionismo, quer pelo arrojo vanguardista de algumas das suas poesias, quer ainda pela animação que imprimiu à revista "Orpheu" (1915). No entanto, quase toda a sua vida decorreu no anonimato. Quando morreu, em 1935, publicara apenas um livro em português, "Mensagem" (no qual exprime poeticamente a sua visão mítica e nacionalista de Portugal), e deixou a sua famosa arca recheada de milhares de textos inéditos.
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Pedro Proença (Angola, 1962): Licenciado em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Vinculado às vanguardas, criou nos anos 1980 o Movimento Neocanibal, que evoluiu para o Movimento Homeostético. Nos anos 1990 dedicou-se à ilustração e ilustrou obras de autores como Camões ou Saramago. Para além de artista plástico, é poeta e autor de ensaios e ficção. A sua obra, pela qual tem recebido vários prémios, já esteve exposta na Europa, Estados Unidos, Brasil e Índia, e faz parte de diversas coleções públicas.
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