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Sinopse

Livro de carácter memorialístico e muito pessoal (o título é um jogo de palavras que vem da infância rural do autor), a edição portuguesa reúne num só volume esta obra fundamental de Carlos Drummond de Andrade, que foi originalmente publicada numa sequência de três títulos, entre 1968 e 1973.

BOITEMPO

Entardece na roça

de modo diferente.

A sombra vem nos cascos,

no mugido da vaca

separada da cria.

O gado é que anoitece

e na luz que a vidraça

da casa fazendeira

derrama no curral

surge multiplicada

sua estátua de sal,

escultura da noite.

Os chifres delimitam

o sono privativo

de cada rês e tecem

de curva em curva a ilha

do sono universal.

No gado é que dormimos

e nele que acordamos.

Amanhece na roça

de modo diferente.

A luz chega no leite,

morno esguicho das tetas

e o dia é um pasto azul

que o gado reconquista.


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Autor

Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade (1902‐1987), poeta, cronista, ficcionista, tradutor, foi uma das figuras maiores da literatura brasileira do século xx, a par de Manuel Bandeira e João Guimarães Rosa. Com uma longa carreira literária, produziu extensa obra em quase todos os géneros disponíveis, deixando ainda vasto conjunto de inéditos. Apesar de se ter notabilizado sobretudo na poesia, a obra de cronista e contista é a de um prosador exímio, tão raro e singular quanto o poeta. Homem tímido e delicado, trabalhou como funcionário público durante 35 anos, viveu a maior parte da vida no Rio de Janeiro, embora tenha nascido em Itabira, no estado de Minas Gerais, tendo-se mantido sempre entre o elevador e a roça, como explicou num dos seus primeiros poemas: «No elevador penso na roça,/na roça penso no elevador». Também na prosa Drummond pensa na poesia (e na poesia pensa na prosa), pelo que o humor, o sentimento do mundo e a consciência do tempo que caracterizam uma são traços distintivos da outra.

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