Três textos de Gertrude Stein, reunidos de forma inédita, compõem o livro A história de todos e de cada um: o romance Ida (de 1940, publicado em 1941), os poemas Catorze retratos anónimos (de 1923 e publicado em 1934, na colectânea de primeiros ensaios e retratos literários Portraits and Prayers), o ensaio A gradual feitura de A Feitura dos Americanos (redigido em 1934 para o ciclo de conferências que Stein ministra nos E.U.A. e que viria a ser publicado em Lectures in America, em 1935). Durante a sua vida, que é o mesmo que dizer, durante a sua obra, Stein dedicou tanto tempo à exegese quanto à criação. É também a feitura da escrita de Stein que se procura aqui evocar em três tempos e três géneros: o romance, a conferência/ensaio, a poesia. Importou demonstrar como Stein escreveu o que pensou e pensou o que escreveu. Se a sua escrita é um laboratório, esta exprime-se tanto através do pensamento em torno da prática, como do pensamento enquanto possível extensão da prática, ou seja, em Stein, a teoria só se afasta da prática por mera circunstância ou protocolo. A tudo isto acresce o mote que dá título à presente edição: a ambição de simultaneamente narrar a história de todos e de cada um.
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Gertrude Stein
Nasceu em Allegheny, EUA, em 1874. A partir de 1903 residiu sempre em Paris. No seu apartamento, acotovelavam-se personagens do mundo artístico e da sociedade: Braque, Tzara, Duchamp, Djuna Barnes, entre tantos outros. Desenvolveu uma relação estreita com Picasso e, simultaneamente, com o seu grande rival, Matisse. Para além de pintores, frequentavam a sua casa Apollinaire, Max Jacob, Satie, Cocteau, Hemingway, Fitzgerald. Em 1907, Stein começou a viver com Alice B. Toklas: a feliz união das duas mulheres durou todo o resto da vida da escritora, amplamente documentada na sua Autobiografia de Alice B. Toklas.
Cézanne teve uma grande influência na obra de Stein: o seu estilo repetitivo e hipnótico e o “cubismo na literatura”, a que ela chamava o seu próprio “método de composição”. Em Cézanne, admirava a técnica e o método e a composição, os detalhes, tão importantes como o todo. Os seus escritos “impressionistas”, onde utilizava termos que lhe eram familiares e que lhe suscitavam uma determinada reacção, tinham como finalidade descobrir a sua verdadeira natureza. Procurava criar uma nova linguagem em que a qualidade do verbo deveria ser intrínseca e não o espelho de uma imagem já dada. É famosa a sua frase, «Rose is a rose is a rose», na qual condensou toda a sua teoria: o sentido deveria surgir a partir da entoação do conjunto de palavras, fazendo emergir do subconsciente o significado perfeito.
Morreu a 27 de Junho de 1946 e foi enterrada no cemitério Père Lachaise, em Paris. Dias antes, na cama do hospital onde estava internada, perguntara a Alice: “Qual é a resposta?” E, uma vez que a companheira não lhe respondeu, insistiu. “Então, qual é a pergunta?!”. O seu humor e o seu génio permaneceram intactos até ao fim.
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