Tenros Botões (1914) é composto por poemas em prosa que são como pequenos quadros cubistas onde o olho percorre cada elemento de maneira a formar uma (ou mais do que uma) narrativa. Organizados em três secções ("Objectos", "Alimentos", "Quartos") os textos assentam na observação instável e a diversos tempos de objectos inanimados, modos de cozinhar e hábitos gastronómicos ou ainda detalhes arquitectónicos indissociáveis da própria deslocação do corpo ou do olhar.
Eis um livro de poesia que ao fim de um século continua a causar escândalo. A razão pela qual isso sucede, como se poderá agora ler em português, prende-se também com a rasura que Gertrude Stein faz das convenções poéticas que todos conhecemos: limando a linguagem até ao osso, a autora mostra ludicamente como a poesia é, antes de mais, música - transferência, transformação e tudo isso junto.
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Gertrude Stein
Nasceu em Allegheny, EUA, em 1874. A partir de 1903 residiu sempre em Paris. No seu apartamento, acotovelavam-se personagens do mundo artístico e da sociedade: Braque, Tzara, Duchamp, Djuna Barnes, entre tantos outros. Desenvolveu uma relação estreita com Picasso e, simultaneamente, com o seu grande rival, Matisse. Para além de pintores, frequentavam a sua casa Apollinaire, Max Jacob, Satie, Cocteau, Hemingway, Fitzgerald. Em 1907, Stein começou a viver com Alice B. Toklas: a feliz união das duas mulheres durou todo o resto da vida da escritora, amplamente documentada na sua Autobiografia de Alice B. Toklas.
Cézanne teve uma grande influência na obra de Stein: o seu estilo repetitivo e hipnótico e o “cubismo na literatura”, a que ela chamava o seu próprio “método de composição”. Em Cézanne, admirava a técnica e o método e a composição, os detalhes, tão importantes como o todo. Os seus escritos “impressionistas”, onde utilizava termos que lhe eram familiares e que lhe suscitavam uma determinada reacção, tinham como finalidade descobrir a sua verdadeira natureza. Procurava criar uma nova linguagem em que a qualidade do verbo deveria ser intrínseca e não o espelho de uma imagem já dada. É famosa a sua frase, «Rose is a rose is a rose», na qual condensou toda a sua teoria: o sentido deveria surgir a partir da entoação do conjunto de palavras, fazendo emergir do subconsciente o significado perfeito.
Morreu a 27 de Junho de 1946 e foi enterrada no cemitério Père Lachaise, em Paris. Dias antes, na cama do hospital onde estava internada, perguntara a Alice: “Qual é a resposta?” E, uma vez que a companheira não lhe respondeu, insistiu. “Então, qual é a pergunta?!”. O seu humor e o seu génio permaneceram intactos até ao fim.
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