Partimos para a análise do conflito militar percorrendo o percurso que se seguiu à implosão da URSS, à independência da Ucrânia e aos termos em que e como foi concretizada. Situámo-lo no tempo e nas circunstâncias dominantes no mundo de então e o atual.

Rebobinámos a fita do tempo: as negociações entre a Rússia e os EUA/OTAN – as diversas etapas e as contradições flagrantes entre o acordado e o caminho percorrido, designadamente quanto às garantias do Ocidente de que os países do Pacto de Varsóvia não viriam a integrar a OTAN.

Nesta senda, passámos em revista os Acordos de Minsk I e II e concluímos que já nada deteria a guerra.

De um lado a convicção de que as quase duas dezenas de milhar de sanções contra a Rússia a fariam colapsar e levar ao desmembramento daquele imenso país; do outro a vontade de alterar a arquitetura de segurança europeia e mundial, abrindo as portas a um novo mundo multipolar. O conflito é no território da Ucrânia, mas não é só entre ucranianos e russos. O mundo entrou numa bifurcação: a manutenção da hegemonia ocidental (EUA/OTAN/UE) ou a entrada na estrada de uma nova ordem mundial em que a Rússia, a China e novas potências emergentes e o Sul Global serão os seus alicerces.

** *

«Este é o mundo onde vivemos e cuja direção, não estando ainda completamente definida, aponta para uma nova fase de desenvolvimento e relacionamento entre os povos e países num mundo multipolar em que a potência dominante a muito custo vai sendo obrigada a ceder a hegemonia em prol de uma nova arquitetura mundial. Está a emergir uma nova ordem mundial e a comunidade internacional não será um hotel gigante cosmopolita com um gerente apenas.»