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Jan Van Eyck: representação do espaço real

Domingos Tavares

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Sinopse

Jan Van Eyck actuou num ambiente cultural e político distinto do que explica o ciclo histórico saído da vontade de fazer renascer a memória do classicismo romano. Com perfeito domínio do desenho e aparente controlo da geometria, recorria às mais avançadas técnicas pictóricas, às convincentes perspectivas, à expressão dos sentimentos humanos nos retratos e até à subtileza dos significados induzidos na pintura, quando, nas cidades do sul, ainda mal se definiam as primeiras regras da ciência perspéctica. E sabe-se como o domínio da representação eficaz do espaço real constitui o instrumento básico para arte de modelação das formas espaciais, o mesmo que esteve na base do ressurgimento da ideia de arquitectura que marcou o ciclo moderno.
Foram os pintores que tomaram em mãos as descobertas técnicas para a eficaz representação da realidade. Práticas antigas de desenho e pintura nas paredes das igrejas, nos pergaminhos dos livros, nas tábuas dos altares, foram enriquecidas por novas descobertas, mas também pela percepção intuitiva das proporções na natureza ou pela aplicação consciente do saber desenvolvido pelos geómetras. Inventaram o fingimento, transformando qualquer parede cega numa imensidão de espaço, outro palco para o teatro da vida. Os mecanismos do pensamento artístico actuaram para uma efectiva compreensão do espaço.
Um conceito contemporâneo de arquitectura utiliza o desenho integrado num conjunto de operações intelectuais que visam dominar as ideias formuladas no interior do espírito do artista, trazendo-as ao plano concreto de um suporte físico para aí serem trabalhadas com um grau de consciência superior. É a arquitectura como coisa mental, a que não é alheio o domínio dos instrumentos inventados por pintores e geómetras para a representação do espaço. Por essa via o desenho transforma-se em projecto, passando a integrar um conjunto de materiais de comunicação organizados como sistema para a transferência da ideia formal preconcebida e por aí chegar à realização física desejada.
O Renascimento foi reflexo das descobertas da geografia, das viagens e da ciência experimental. Codificaram-se novas regras em todos os domínios do saber, incluindo a literatura e as artes visuais, como resposta integrada no movimento cultural gerado na Europa. Correspondeu ao renascer da experiência urbana, servindo as mais diversas formas da arte como meio para a consolidação de novas estruturas do viver. A cultura de isolamento deu lugar à expressão do ser em colectivo, como se fora uma descida do céu à terra, transportando as práticas e sentimentos religiosos para os níveis de entendimento da moral necessária a uma boa organização da vida quotidiana. É, também, por isso que esta História da Arquitectura Moderna começa pelo notável trabalho dos pintores que porfiaram na dolorosa descoberta dos meios para o domínio e correcta representação das formas no espaço.

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Autor

Domingos Tavares

Domingos Tavares (Ovar, 1939) é arquiteto e Professor Emérito da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, onde ensinou desde 1985 a disciplina que deu origem às Sebentas de História da Arquitectura Moderna publicadas pela Dafne Editora desde 2003. Autor dos livros Da Rua Formosa à Firmeza (Faup, 1985) e Francisco Farinhas Realismo Moderno (Dafne, 2007)


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