Frágil como o Mundo condensa uma pesquisa etnográfica sobre a experiência social do operariado de uma comunidade industrializada do Noroeste português, que incluiu a observação participante numa fábrica de mobiliário, trabalhando como ajudante de máquina (ou «moço», simplesmente) em 2007, e a transferência de residência para a comunidade no ano seguinte, o que tornou possível participar nos ritmos e nas rotinas do operariado local ao longo de vários meses. Nas visitas ao centro de emprego ou ao centro de saúde, nas idas ao café ou às casas da vizinhança, ou nos jogos de uma equipa de futebol amador, tentou-se objectivar sociologicamente as práticas operárias que ocupam e constituem a constelação de locais que circunscreve as suas sociabilidades mais comuns. Afastado de interpretações economicistas e tecnicistas, procura-se, em particular, recuperar a espessura prosaica do trabalho operário, essa cultura somática e essa oralidade que escapa ao seu tratamento simplista. Sem privar a fábrica do seu encastramento sobre o espaço social da comunidade, esta pesquisa procurou, ao mesmo tempo, conhecer os processos de transformação localmente em curso, incidindo, especialmente, sobre as estratégias de reprodução engendradas pelas famílias operárias para lidarem com as mudanças trazidas pelo emprego, pela escola, pela habitação e pelo consumo.