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Sinopse
Adelaide Lopes: «O culto da maternidade está presente na vida da Humanidade desde os seus primórdios, tendo-se traduzido em diferentes mitos e imagens artísticas ao longo dos tempos. No contexto da civilização cristã, esse culto foi associado à imagem da Virgem Maria, sendo as formas mais comuns da sua representação a Virgem com o Menino Jesus (habitualmente ao colo), a Virgem do Leite (expondo um dos seios e/ou amamentando Jesus) e a Virgem da Expectação (grávida).»
Proponho que nos detenhamos frente à Virgem da Expectação atribuída a Mestre Pero e tentemos o exercício a que, na nossa tradição, se chamou filosófico. Proponho que nos coloquemos diante desta obra com um olhar tão virgem quanto a Virgem: como se fosse a primeira vez, e nada soubéssemos ainda a seu respeito, e o sentido que habitualmente lhe atribuímos não escondesse o problema que ela nos dá a pensar.
Acontece que, nesta obra, nada parece problemático. Tudo nela é suave, as linhas deslizam sem atrito, desde o cair dos cabelos às pregas do vestido, à mão que repousa docemente sobre o ventre ou à ligeira inclinação da cabeça. Exceptuando a mão direita amputada, tudo aparece sem ângulos, toda ela é redonda, a começar, evidentemente, pela maravilhosa proeminência do ventre da Senhora […]. É uma imagem da suavitas, e até o peso da gravidez nos aparece de tal modo que nele vemos o seu contrário — vemos, ou podemos ver, a graça, quer dizer, a chegada do alívio que vem tornar o mundo mais leve, libertá-lo das suas penas, justificar as nossas dores, dar, por fim, um sentido ao que nos faz questionar, sofrer, duvidar.
[Maria João Mayer Branco]
A presente colecção reúne as conferências apresentadas no ciclo «Frente à Obra. Arte e Filosofia», que teve lugar no Museu Nacional de Arte Antiga, entre 2 e 7 de Maio de 2022, como resultado de uma colaboração entre o Plano Nacional das Artes, o Departamento de Filosofia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, o Instituto de Filosofia da Nova e o MNAA. Os oradores foram convidados a escolher uma obra do Museu e a propor uma reflexão filosófica na presença da mesma, antecedida por uma contextualização histórica apresentada por um membro da equipa do Museu. A publicação das conferências vem agora a público, entendendo-se como uma partilha e um testemunho das possibilidades que a relação entre a arte, a história e o pensamento abrem a todos nós.
[Maria João Mayer Branco, Paulo Pires do Vale, Tomás Maia]
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