Manolo, nome do guia, deu-se a conhecer na taberna habitual onde os portugueses paravam, em Alcântara. Foi Manuel Vinagre que meteu conversa e convidou o homem para uma rodada de vinho, dando indicação ao taberneiro, o velho “Carlos V”, como era alcunhado, figura bem conhecida deles. Escolheram uma mesa livre e esperaram os três que Carlos lhes trouxesse vinho e umas tapas de ocasião, sofregamente saboreadas. Limpando os beiços às costas da mão direita, Manolo perguntou a Manuel o trajeto a seguir, mas como resposta obteve apenas:

El valle de Jerte.

Hombre, el valle de Jerte es largo.

Se necesitam dos días. A la vuelta, caminaremos por nuestro pie. ¿Cuánto cobras?

Trecentos reales.

¡Vale!

De seguida, Manuel entregou os trezentos reais a Manolo e disse-lhe para ali estar ao romper do dia seguinte, já com o cavalo ajaezado. Não houve outra conversa, tendo-se concluído a reunião que não durou mais de meia hora. Manuel Vinagre e Lopez Montero continuaram sentados no banco corrido, isolados dos restantes clientes, com diálogos curtos, em baixa voz. Pediram a Carlos duas raciones completas e mais um litro de vinho, que declararam apreciar. Os dois alforges repousavam sob os seus assentos, mas o conteúdo estava escondido num local secreto, até à manhã seguinte. No hostal, em Alcântara, tudo correu sem problemas.