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Sinopse

Uma das coisas boas da Cartoonlândia é que os artistas têm a virtude de se divertir por conta das próprias desgraças. Um cartoonista
alemão, na sequência da condenação de um colega turco a um ano e 16 dias de prisão, solidarizou-se desenhando uma parede com grades
e os seguintes dizeres: «Oferta especial para cartoonistas: 1 ano e 16 dias na Turquia. All Inclusive!»
Mas a desgraça dos cartoonistas não traz alegria aos leitores dos jornais. O extremismo inimaginável do massacre no Charlie Hebdo
faz parecer quase inofensivas as medidas repressivas contra outros cartoonistas pelo mundo fora, para não falar das ameaças anónimas a
que estão sujeitos no esgoto em que se transformaram largas franjas das redes ditas sociais. Tais perseguições e ameaças, mais subtis e
encobertas, constituem uma ameaça séria à liberdade de expressão.
Lamentavelmente, um pouco por todo o mundo, proprietários e editores de jornais de referência, alguns dos quais baluartes históricos da
Imprensa livre e democrática, dão sinais de ceder às pressões e ao medo. Que tal recordar-lhes, bem a propósito, a lendária expressão do presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt: «The only thing we have to fear is... fear itself.»
Neste milénio que começou tão mal, com ataques terroristas, estados falhados, crises financeiras globais e desastradas respostas políticas aos múltiplos desafios sociais, económicos e ambientais que a Humanidade enfrenta, vamos vendo como se degrada o subsistema de poder centrado nos jornais. A verdade e o rigor estão cada vez mais ausentes da narração jornalística, mitos e realidades confundem-se, e os centros de poder associados às redes de produção das notícias falsas descobriram a fórmula mágica para moralizar as suas hostes e desacreditar o jornalismo em geral, pondo nos outros o labéu da falsidade em que eles próprios vegetam. A sua filosofia:
«Minto, logo existo!»
O jornalismo sério viu-se obrigado ao permanente exercício do fact checking, com uma mão cheia de repórteres remetidos ao triste
destino de inspectores da verdade, policiando minuciosamente as declarações dos políticos. Aconteceu ou não aconteceu? Existiu ou não
existiu? Foi dito ou não foi dito?
Na guerra entre o dito e o feito em que se enredou a produção jornalística, há uma vítima colateral chamada cartoon.
Porque o desenho de humor não é detector de mentiras nem o atelier do cartoonista um laboratório onde se processe a análise para separar o que é verdade do que é falso, editores de jornais muito sérios e prestigiados, assediados pela turba, não hesitaram em fazer aos desenhos o que nunca poderiam aceitar que alguém fizesse aos seus textos: censura, pura e dura. Em certos casos, total.
Pressionado pelo lobby sionista, depois de ter publicado online a sátira de um autor português onde Netanyahu é retratado como um cãozinho de perna curta e longo dorso que guia um Trump invisual, o enormíssimo New York Times desfez-se em desculpas e cortou o mal pela raiz. Numa nota aos leitores, anunciou que não vai haver mais cartoons nas páginas do jornal! Como bem observou um cartoonista canadiano, «é como publicar um comunicado à imprensa dizendo que, a partir de agora, o New York Times publicará um jornal incompleto.» Este mesmo autor viu rescindido o seu contrato de colaboração de quase duas décadas com uma cadeia de jornais canadianos, da noite para o dia, depois de lhes ter enviado um trabalho onde se vê Trump a pedir aos corpos inanimados de dois emigrantes mexicanos, pai e filha, afogados na travessia da fronteira, se não se importam de se desviar para ele poder passar com o seu carrinho de golfe.
Jornais sem cartoons são jornais incompletos. Editores que despedem cartoonistas pela virulência crítica das suas sátiras são jornalistas
indignos. Países que mandam cartoonistas para a prisão pelos seus cartoons são farsas de democracia, a caminho da ditadura.
O objectivo mais vasto dessa repressão inorgânica, e no entanto feroz, é empurrar os cartoonistas para a autocensura. O apelo que fazemos, enquanto organização que celebra a liberdade de expressão, é que os jornais continuem a publicar cartoons e que os cartoonistas possam continuar a exprimir-se sem amarras.

ANTÓNIO ANTUNES
RUI PAULO DA CRUZ
PEDRO PEREIRA DA SILVA
WORLD PRESS CARTOON

PS: Ah... E não é que quase passava sem menção a crise da pandemia?!
Pois é, o World Press Cartoon Caldas da Rainha 2020 não escapou à coisa e ficou de quarentena. O nosso júri reuniu em Fevereiro, a cerimónia de entrega de prémios foi anunciada para Maio, contrataram-se artistas para o espectáculo, os premiados foram convidados, asseguradas as reservas de voos e hotéis. E eis que, entretanto, o mundo quase parou. Como sempre em estreita colaboração com a Câmara Municipal das Caldas da Rainha, cujo empenho no apoio à organização do World Press Cartoon nunca é demais reconhecer e muito agradecemos, tomámos a decisão de adiar a cerimónia e a exposição para o fim do Verão, princípio do Outono de 2020. Assim será, se o vírus nos deixar em paz...

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Autor

WPC - World Press Cartoon

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