Mas esperemos serenamente, porque à mulher portuguesa há de chegar também a sua vez de compreender que só no trabalho pode encontrar a sua carta de alforria. Não no trabalho esmagador, exercido como castigo, mas no trabalho que enobrece o espírito, que dá o belo orgulho dos que só contam consigo e nunca foram um peso para ninguém. […]
Portanto, ser feminista é o dever de todos os pais. Porque ser feminista não é querer as mulheres umas insexuais, umas masculinas de caricatura, como alguns cuidam; mas sim desejá-las criaturas de inteligência e de razão, educadas útil e praticamente de modo a verem-se ao abrigo de qualquer dependência, sempre amarfanhante para a dignidade humana.
Edição que assinala os 120 anos de publicação da obra.
Livros cosidos, com folhas não aparadas, à semelhança do que se fazia no passado. A editora liga assim a coleção à História do Livro e associa-lhe uma vantagem ecológica, evitando o desperdício de papel.
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Ana de Castro Osório
A escritora, activista e pedagoga Ana de Castro Osório (Mangualde, 18 de Junho de 1872 – Setúbal, 23 de Março de 1935) publicou, em 1905, "Às Mulheres Portuguesas", o primeiro manifesto feminista português. Foi uma das fundadoras do Grupo Português de Estudos Feministas, em 1907, da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, em 1909 e, em 1912, da Associação de Propaganda Feminista, a primeira organização sufragista portuguesa, que, por iniciativa da escritora, integrou a International Women Suffrage Alliance. Dedicou-se desde muito cedo ao jornalismo, tendo dirigido diversos periódicos, como "Sociedade Futura" (1902), "O Jornal dos Pequeninos" (1907-1908), "A Mulher e a Criança" (1909-1910), "A Semeadora" (1915-1918). Desempenhou um papel de destaque no jornal setubalense "O Radical" (1910-1911). Foi membro do Grande Oriente Lusitano, adoptando como nome simbólico o da revolucionária do século XVIII Leonor Fonseca Pimentel. Imediatamente após a instauração da República, trabalhou com o Ministro da Justiça na elaboração da Lei do Divórcio, de 1910. Entre 1911 e 1916 viveu no Brasil, acompanhando o marido, que fora nomeado cônsul em S. Paulo. Com o deflagrar da 1ª Guerra Mundial fundou a Comissão de Mulheres Pela Pátria, a partir da qual se formou, em 1916, a Cruzada das Mulheres Portuguesas. Em 1916 exerceu as funções de subinspectora do trabalho da 1ª Circunscrição Industrial do Ministério do Trabalho. Foi condecorada com a Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (1919) e com a Ordem Civil do Mérito Agrícola e Industrial (1931).
É considerada a criadora da literatura infantil em Portugal, tendo realizado uma extensa e intensiva recolha dos contos da tradição oral do país, e publicado inúmeros volumes de histórias para crianças, além de ter traduzido e publicado os contos dos irmãos Grimm e muitos outros autores estrangeiros de literatura para crianças. Criou manuais escolares para o 1º ciclo. A sua extensa e diversificada obra literária, de mais de cinquenta títulos, inclui também ensaios, romances e contos. A Ana de Castro Osório se deve a compilação, organização, edição e publicação de "Clepsidra", o único livro de Camilo Pessanha, em 1920, na editora por ela criada, Lusitânia.
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