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Sinopse

    “Já sugerimos, no nosso prefácio à Poesia do Eu, que a heteronímia tinha fortes raízes psicológicas, visto que Pessoa, ainda na infância, não inventava uns amiguinhos fictícios quaisquer, mas sim amigos escritores com quem fazia brincadeiras cada vez mais literárias. Com cinco ou seis anos de idade “recebia” cartas de um tal Chevalier de Pas, que ele próprio escrevia, e em 1902, quando a família veio passar umas longas férias a Portugal, assinou uma série de poemas com os nomes Dr. Pancrácio, Eduardo Lança e outros “colaboradores” dos jornais faz-de-conta que o adolescente em botão compunha com esmero [...]. Regressando a Durban, surgiu Charles Robert Anon, o primeiro “outro eu” com uma obra mais desenvolvida, que incluía poesia, ficção e ensaio. Seguiu-se o ainda mais prolífico Alexander Search, anglófono como Anon e provavelmente concebido já em Lisboa, quando Pessoa frequentava o Curso Superior de Letras. Em 1908, surgem Charles James Search (irmão do Alexander e tradutor), Jean Seul (único heterónimo francês) e Pantaleão, um aforista e autor de umas “Visões”. Ainda antes de 1910, entram em cena Carlos Otto, Joaquim Moura Costa e Vicente Guedes, todos eles poetas e não só. O primeiro assinou um inacabado “Tratado de Luta Livre” e o último tinha incumbências várias: poesia, contos, traduções e, a partir de 1914 ou 1915, a suposta autoria do Livro do Desassossego, cargo que apenas cederia a Bernardo Soares em 1928 ou 1929. Joaquim Moura Costa, republicano fervoroso, deveria colaborar com poemas satíricos em dois periódicos – O Fósforo e O Iconoclasta – a publicar pela malograda Empresa Íbis, a editora e a tipografia montada por Pessoa em finais de 1909 e quase imediatamente extinta. E havia outros como o psiquiatra Faustino Antunes, o religioso Friar Maurice e o contista Horace James Faber.
    Morto o projecto da editora Íbis, que se propunha publicar várias obras assinadas pelos nomes citados, a frenética propagação de autores fictícios conhece uma pausa. O último poema, datado, de Alexander Search é de Agosto de 1910, sendo Vicente Guedes o único dos pseudo-escritores que persistirá, mas já sem grande actividade até tomar conta do Livro do Desassossego. Fernando Pessoa, no início da década de 1910, teve uma fase de intensa sociabilidade, saltitando de café em café, de tertúlia em tertúlia, mas a sua mutável identidade como ser literário conheceu três anos de acalmia, pelo menos exteriormente, antes da espantosa erupção de 1914."

Richard Zenith, no prefácio a este livro.

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Autor

Fernando Pessoa

Um dos maiores génios poéticos de toda a nossa Literatura e um dos poucos escritores portugueses mundialmente conhecidos. A sua poesia acabou por ser decisiva na evolução de toda a produção poética portuguesa do século XX. Se nele é ainda notória a herança simbolista, Pessoa foi mais longe, não só quanto à criação (e invenção) de novas tentativas artísticas e literárias, mas também no que respeita ao esforço de teorização e de crítica literária. É um poeta universal, na medida em que nos foi dando, mesmo com contradições, uma visão simultaneamente múltipla e unitária da Vida. É precisamente nesta tentativa de olhar o mundo duma forma múltipla (com um forte substrato de filosofia racionalista e mesmo de influência oriental) que reside uma explicação plausível para ter criado os célebres heterónimos - Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, sem contarmos ainda com o semi-heterónimo Bernardo Soares.

Fernando Pessoa nasceu em Lisboa em 1888 (onde virá a falecer) e aos 7 anos partiu para a África do Sul com a sua mãe e o padrasto, que foi cônsul em Durban. Aqui fez os estudos secundários, obtendo resultados brilhantes. Em fins de 1903 faz o exame de admissão à Universidade do Cabo. Com esta idade (15 anos) é já surpreendente a variedade das suas leituras literárias e filosóficas. Em 1905 regressa definitivamente a Portugal; no ano seguinte matricula-se, em Lisboa, no Curso Superior de Letras, mas abandona-o em 1907. Decide depois trabalhar como "correspondente estrangeiro". Em 1912 estreia-se na revista A Águia com artigos de natureza ensaística. 1914 é o ano da criação dos três conhecidos heterónimos e em 1915 lança, com Mário de Sá-Carneiro, José de Almada-Negreiros e outros, a revista "Orpheu", que dá origem ao Modernismo. Entre a fundação de algumas revistas, a colaboração poética noutras, a publicação de alguns opúsculos e o discreto convívio com amigos, divide-se a vida pública e literária deste poeta.

Pessoa marcou profundamente o movimento modernista português, quer pela produção teórica em torno do sensacionismo, quer pelo arrojo vanguardista de algumas das suas poesias, quer ainda pela animação que imprimiu à revista "Orpheu" (1915). No entanto, quase toda a sua vida decorreu no anonimato. Quando morreu, em 1935, publicara apenas um livro em português, "Mensagem" (no qual exprime poeticamente a sua visão mítica e nacionalista de Portugal), e deixou a sua famosa arca recheada de milhares de textos inéditos. 

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