Publicado em 1984, Nos Arquivos de Freud constitui um exame acutilante de um escândalo ocorrido no universo da psicanálise. Em 1951, o psicanalista austríaco Kurt R. Eissler (1908–1999) fundara os Arquivos de Freud, alojados na Biblioteca do Congresso dos EUA, e contendo cartas, manuscritos, fotografias, gravações e documentos pessoais de Sigmund Freud (1856–1939). Em meados da década de 70 do século XX, Eissler conheceu Jeffrey Moussaieff Masson (1941–), um jovem especialista em sânscrito e psicanalista em formação que começara a frequentar congressos de psicanálise e a relacionar-se com os seus mais distintos praticantes. Eissler simpatizou com Masson e deu-lhe «o maior presente que estava em seu poder conceder-lhe: arranjou maneira de fazer dele seu sucessor como Secretário dos Arquivos de Freud». A decisão gerou perplexidade, considerando que Eissler restringia o acesso do público, mas também de estudiosos e outros psicanalistas, a grande parte do material dos Arquivos. Já no cargo, Masson defendeu, numa palestra em Yale, que Freud abandonara por oportunismo a teoria da sedução, segundo a qual «o abuso sexual na infância ou nos primeiros tempos de vida era a causa principal da histeria», acusando-o de ser responsável pela «esterilidade atual da psicanálise». Eissler, freudiano ortodoxo, despediu-o; Masson processou Eissler — e, após a publicação de Nos Arquivos de Freud, abriu um processo por difamação contra Malcolm, que só viria a ser absolvida em 1994. Neste livro estimulante, Janet Malcolm eleva-se à altura dos melhores romancistas na descrição e desconstrução dos princípios, práticas e fragilidades da psicanálise. É o seu primeiro livro publicado em Portugal.