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Detalhes do Produto

Sinopse

José Bértolo: «Há um texto de Wenceslau de Moraes em que este nos relata um sonho que teve, durante o qual conversava com a sua mulher Ó-Yoné usando o que ele descreve como “a língua dos mortos”. Eu também converso com fantasmas há muitos anos. Também eu devo falar a língua dos mortos. […] Mas não fui o primeiro a ir ao encontro de Wenceslau nestes lugares. Antes de mim, Paulo Rocha e Armando Martins Janeira já o haviam feito.»

Moraesu Street é uma rua de Tokushima onde o escritor português Wenceslau de Moraes (1854-1929) passou os últimos dezasseis anos da sua vida. O Japão foi um lugar de fascínio e de refúgio para Moraes. Fascínio pela cultura, pelos costumes, pelas gentes; refúgio de um ocidente altamente industrializado, bélico, no qual não se revia. Mas, sem conseguir integrar-se também na fechada sociedade japonesa, Moraes viveu em Tokushima como quem vive fora do mundo. Viúvo nos seus últimos dez anos, dedicou o remanescente da sua vida ao culto das suas duas mulheres mortas, à contemplação da natureza e à escrita de textos que enviava para publicação em Portugal. Hoje o seu túmulo e os das duas mulheres, Ó-Yoné e Ko-Haru, podem ser visitados num pequeno cemitério de Tokushima Moraes viveu assombrado e passaria a assombrar os seus leitores. O diplomata Armando Martins Janeira e o cineasta Paulo Rocha viajaram ao Japão, nos anos 50 e 80, para seguir o rasto de Moraes. Deste périplo resultaram obras como o livro Peregrino, do primeiro, e o filme A Ilha de Moraes, do segundo.

Moraesu St. é uma resposta de José Bértolo à interpelação destes trânsitos espectrais. Este livro de fotografia nasce de uma visita ao Japão — Tokushima, mas também Kobe, Osaka, Kyoto ou Nara —, durante a qual o fotógrafo trilhou os mesmos caminhos de Moraes, Janeira e Rocha, produzindo uma reflexão sobre a fotografia enquanto «língua dos mortos», como escreveu Moraes.

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Autor

José Bértolo

É doutorado pela Universidade de Lisboa (2019) e investigador do Centro de Estudos Comparatistas. Tem desenvolvido trabalho nas áreas dos estudos fílmicos, da intermedialidade e da literatura comparada, com especial incidência em questões de ficção e narrativa, representação e figuração, ontologia e materialidade das imagens. Publicou, na Documenta, «Imagens em Fuga: Os Fantasmas de François Truffaut» (2016), «Sobreimpressões: Leituras de Filmes» (2019) e «Espectros do Cinema: Manoel de Oliveira e João Pedro Rodrigues» (2020). Co-organizou os volumes «A Escrita do Cinema: Ensaios» (com Clara Rowland, Documenta, 2015), «Morte e Espectralidade nas Artes e na Literatura» (com Fernando Guerreiro, Húmus, 2019) e «Imitações da Vida: Cinema Clássico Americano» (com Fernando Guerreiro e Clara Rowland, Bookbuilders, 2020), e co-editou, com Margarida Medeiros, um número da «Revista de Comunicação e Linguagens» dedicado a «Os Fantasmas da Fotografia e do Cinema». Organizou e participou em conferências nacionais e internacionais, foi responsável pela programação de ciclos de cinema em espaços culturais e académicos, e tem colaborado com diversas instituições e websites.

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