A História, tal como chega até nós, acaba por constituir uma especulativa selecção de factos e ocorrências, que interessa sobretudo aos detentores do poder. Tal objectivo adultera a realidade, alienando motivações, ignorando fenómenos determinantes, escondendo e destruindo documentos incómodos, o que põe em causa a autenticidade dos seus registos.

Embora involuntariamente e quiçá de modo inconsciente, é certo que todo o cidadão que tenha exercido funções em cargos de natureza pública contribui – por vezes de forma bem marcante – para a tomada de decisões políticas que orientam o destino das Nações e ficam gravados na memória do tempo, posto que sem se virem a conhecer seus pressupostos, circunstâncias, causas e processos.

Por mercê de intervenções e participações várias em projectos para cuja execução ou elaboração fui convidado, tive oportunidade de ver de perto como os candidatos a “construtores” da História se perfilam e apresentam para nela constarem aureolados por dotes que só na sua imaginação existem e também por factos e acções que se atribuem, embora plenamente conscientes de que não são os seus autores.

Foi deste modo motivado que tomei a decisão de recorrer à brancura do papel para nele registar episódios que, tendo-me como protagonista ocasional e momentâneo, se tornaram elementos determinantes de tomada de decisões políticas que a História não deixará de registar.