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Afonso Lopes-Vieira com hífen à francesa, tique compreensível num escritor do Portugal do princípio do século XX, dominado literariamente pela França; com uma novela que se quis isolada nas reduzidas prosas de um poeta incansavelmente versejador. Quando escreveu «Marques», em 1903, era desde há seis anos conhecido em livros de versos; era o poeta deNáufrago, do Auto da Sebenta, da Elegia da Cabra, de Meu Adeus e deO Poeta Saudade. E saía-lhe então, num desvio aos trabalhos rimados, a primeira prosa decidida a mostrar-se com uma ficção que os anos não apagam na sua invulgaridade — invulgaridade nas ficções da literatura portuguesa — a afastar-se da ideia nacionalista e patriótica da sua poesia, das suas imagens românticas e misteriosas, da lenda, com o povo dentro de si, das pegadas de Garrett, para se aproximar de um modernismo, digamos que «à Almada» (à «pré-Almada» porque as prosas da Orpheu de A Engomadeira surgiram onze anos mais tarde).
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Na prosa, Lopes-Vieira espalhou-se por ensaios, sem nunca acrescentar outras ficções a «Marques». Ficaram a dever-se-lhe adaptações, uma hábil do Amadis de Gaula, outra de A Diana de Jorge de Montemor; uma tradução do Poema do Cidque foi comentada dentro e fora de Portugal; os diálogos dos filmes Camões e Inês de Castrode Leitão de Barros, e oito textos destinados a crianças, muito elogiados por Agostinho de Campos, Guerra Junqueiro e Alberto de Castro Osório (entre eles, em 1912, umBartolomeu Marinheiro asperamente criticado por Fernando Pessoa — a quem o mundo de famas e reconhecimentos nacionais incomodava — e lhe chamou uma «baba pedagógica» destinada a imbecilizar os jovens leitores).
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A novela «Marques» publicada em 1904, com o ouvido dos leitores portugueses habituado às seguranças formais de Eça, Antero, Fialho e Teófilo, soava com dissonância e incomodava pela novidade do seu «desleixo» estrutural; surgia com uma lateralidade que a deixava em lugar discreto nas montras e condenava-a a baixo ponto de vendas nas edições da Viúva Tavares Cardoso. «Marques» teve a honra de não ser compreendido, escreveu o autor. Os seus simpáticos defeitos só mais tarde se esfumariam, suplantados pelas surpresas da singularidade. A sua leitura ainda divide os que lhe não dão, como o seu autor, grande importância (Aquilino: «Falando-lhe nós um dia dela, franziu os lábios com desdém, o que se nos afigurou excessivo») e os que chegam ao ditirambo (João Gaspar Simões: «Desconhecida obra-prima da ficção portuguesa.»)
[Aníbal Fernandes]