Detalhes do Produto
- Editora: Almedina
- Coleção: Coleção STVDIVM
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- Ano: 2001
- ISBN: 9789724015354
- Número de páginas: 253
- Capa: Brochada
Sinopse
Tradução e Prefácio de L. Cabral Moncada
NOTA DE APRESENTACÃO : INTRODUÇÃO: Significado
e importância da teoria dos valores História da teoria dos valores A moderna problemática axiológica ONTOLOGIA DOS VALORES: Essência dos valores Valor e ser Valor e Dever-Ser O "valer" ou a validade dos valores Classificação dos valores A hierarquia dos valores - GNOSEOLOGIA DOS VALORES: A luta de opiniões A essência do conhecimento dos valores Dois Preconceitos em matéria de gnoseologia Pensamento valorador e pensamento cientifico -ANTROPOLOGIA DOS VALORES: Os valores e o homem O homem e os valores - TEOLOGIA DOS VALORES: A realização e a posse dos valores, origem da negação de Deus A realização dos valores como caminho para Deus Os valores e Deus Conclusão
NOTA DE APRESENTAÇÃO
A «Teoria dos Valores», sabe-se, é uma corrente de pensamento filosófico, que se desenvolveu entre a segunda metade do século XIX e a primeira do século XX. Gozou do favor das elites intelectuais durante o período, que recobre o intervalo entre as duas Grandes Guerras.
Se sofre, em seguida a essa data, o que se poderia chamar de um «recuo», em termos de «teoria», não será estranho ao facto, a importância que, também por essa altura, ganha, no panorama filosófico, o pensamento de dois mestres do pensar, que foram MARTIN HEIDEGGER e LUDWIG WITTGENSTEIN. [...]
Quer WITTGENSTEIN, quer HEIDEGGER - desconstruindo, por caminhos de pensamento diferentes, a Metafísica da Subjectividade e as Teorias Axiológicas, que naquela se enraízam - apontam no sentido da necessidade de uma «conversão» em ordem a uma nova experiência de «religação».
O homem contemporâneo é, na crítica de ambos, um ser que perdeu o sentido da «vinculação» e do «compromisso». Vivendo num mundo de alta competitividade e estimulado pelos valores materiais do consumismo, está condenado, pela força da sua circunstância, a um individualismo extremo, indiferente a outras realidades, que não sejam as do seu círculo de interesses.[...] - a perda de «substancialidade» do real, cada vez mais reduzido à imagem e à sua difusão tantas vezes contraditória e quase sempre instrumentalizada, reforçam o individualismo, intensificam a indiferença, dissolvem os vínculos e neutralizam a capacidade de resposta à dor e sofrimento do outro, cuja realidade tem a mesma consistência que a mensagem no seu ser evanescente. Difícil é, hoje, experienciar o «peso» do que dura e permanece.[...]
Mas, se como HEIDEGGER escrevia na Carta sobre o Humanismo - e muitas das notas de WITTGENSTEIN corroboram a mesma atitude -o pensar «contra os 'valores' não afirma que tudo aquilo que se declara como 'valores', a 'cultura', a 'arte, a 'ciência', a 'dignidade do homem', 'mundo'e 'Deus', seja sem valor», podemos entender como repensar a noção de «valor» tenha constituído para alguns um novo desafio.[...]
A reedição da obra de JOHANNES HESSEN, Wertphilosophie (1937) não é um capricho editorial ou um gesto estratégico de alcance puramente mercantil.
O renovado interesse pela questão do valor, repõe o interesse pelo conhecimento dessa corrente particular da Filosofia, que foi a Teoria dos Valores, no lugar do que é urgente.
Certo, que a retórica filosófica, que tece a urdidura nocional do texto, traduz o horizonte temporal da sua escrita e a perspectiva pessoal das convicções profundas do seu autor. Mas, dizer isto é, apenas, referir a meta-norma de toda a poiésis, enquanto expressiva da temporalidade do «ser-aí», no desdobramento multiplural das suas configurações de mundo e de sentido. Regulação, que determina o produtor e o produto, de todas as vezes e ao mesmo tempo, ao destino paradoxal de um dado condenado à superação e de um dado, doando-se para ser superado.
Referimo-nos já ao espaço crítico a que esteve exposto o domínio axiológico, quando se constituiu em teoria, pretenciosamente abrangente e de pendor quase totalizante do espaço do filosoficamente pensável. Neste texto de JOAHNNES HESSEN, exemplarmente, se dá conta das questões, que a consubstanciavam, dos seus perfis, das finas análises, que motivou. Tudo isso - se recolocado num outro e novo horizonte de leitura, liberto da ganga metafísica - constitui um património filosófico de valor , inestimável, na aquisição cultural de uma consciência axiológica refinada.
Mais não seria necessário para tornar recomendável a reedição e a leitura obrigatória desta obra. Porém, cometeríamos a mais profunda injustiça, se deixássemos por referir a inspiração augustiniana e pascaliana, que anima o mais fundamental da teoria axiológica de HESSEN. Esse é o húmus, que a faz vir ao encontro das aquisições mais recentes do nosso horizonte de compreensão, entretecido pelos saberes científicos e as interrogações filosóficas: o reconhecimento do trabalho essencial de L'ordre du coeur» em tudo o que de exaltante dispõe a humanidade a ser.
Coimbra, Outubro de 2001.
MARINA RAMOS THEMUDO