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Sinopse

Além, romance de 1891, foi levado a grande audácia nos jornais de Paris e multiplicou-se na tiragem até às dezenas de milhares — surpresa num autor de prestígios que mal rompiam o circuito dos intelectuais do Quartier Latin.

Joris, Karl, Huysmans: pelo nome talvez um estrangeiro decidido a escrever em francês. Mas não. Charles-Marie-Georges tinha surgido na literatura apagando as marcas do baptismo (por aversão à mãe, por aversão ao padrasto) e preferia-se todo holandês para honrar a memória de Godfried Huysmans, seu pai litógrafo e pintor que desde os oito anos de idade ele se habituara a visitar no cemitério de Montparnasse.

Solitário, magoado e misógino desde a adolescência, dividido por uma bissexualidade activa mas fechada aos afectos, continuou nesta cor de cinza quando se sentou à secretária de um ministério onde o mandaram vigiar burocraticamente as casas de jogo e os casinos da França. Enfrentou enormes tédios profissionais pela tranquilidade de uma segurança material; cumpriu deveres de cela para respirar a libertação de fins de tarde que o atirava, entre jantaradas e vinho, às turbulências da margem esquerda do Sena.

[…]

J.-K. Huysmans sobrevive numa posteridade discreta, apesar das universidades que o estudam, apesar dos investigadores que o biografam, apesar das colecções de bolso que o editam. Um percurso manso com estremecimentos, como o elogio rasgado de Mallarmé, ou Paul Valéry a profetizar que «os seus livros continuarão a atrair estranhos visitantes e bem extraordinárias correspondências»; André Breton a trazê-lo ao culto das hostes surrealistas; Julien Gracq e Roger Vailland a dizerem o que lhe devem; Drieu La Rochelle a lembrar que ninguém, como ele, «mostrou o homem das cidades na sua suprema imobilidade».

[Aníbal Fernandes]

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Autor

J.-K. Huysmans

Charles-Marie-Georges Huysmans nasceu em Paris, em 1848, e mais tarde escolheu para si o nome Joris-Karl Huysmans, que usaria até 12 de Maio de 1907.

Filho único de mãe francesa e pai holandês, aos vinte anos, Huysmans iniciou uma entediante carreira no Ministério do Interior, cujas funções administrativas partilhou com a escrita, ao longo de trinta anos, apenas interrompidos para prestar serviço na Guerra Franco-Prussiana.

Influenciado pelos naturalistas contemporâneos nas primeiras obras, Huysmans integrou um círculo de amigos que incluíam Émile Zola e Guy de Maupassant — os famosos serões de Médan; cedo porém rompe com essa ligação, à medida que os seus romances assumem um conteúdo mais decadente e um estilo mais violento.

«Ao Arrepio», de 1884, marca o início do segundo percurso literário de Huysmans, uma obra que acompanha as excentricidades e angústias do esteta Des Esseintes, e que de tal maneira simbolizou a decadência da cultura da elite francesa do final do século XIX, que foi considerado um breviário do decadentismo. É este o livro amarelo, venenoso, que corrompe Dorian Gray na famosa obra de Oscar Wilde.

Em 1895, Huysmans faz um retiro no mosteiro de Issigny e, profundamente impressionado, converte-se ao catolicismo de que tanto havia desdenhado nos seus romances até então. As suas obras ganham novo rumo, concentrando-se na sua recém-descoberta fé, na arte religiosa da Idade Média, e evidenciando um misticismo que na verdade já o acompanhava.

Embora ampliando os estilos literários, a obra de Huysmans manteve-se constante na riqueza das descrições e do vocabulário, na erudição abrangente, no uso idiossincrático da língua francesa e na viagem espiritual a que submete todas as suas personagens.

Além de escritor, Huysmans foi também um prolífero crítico de arte, e muito contribuiu para o reconhecimento de pintores impressionistas, como Degas. Foi ainda um dos fundadores da Academia Goncourt, que todos os anos concede o prestigiado prémio literário.

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