A poesia não está, nunca esteve aí, no mundo, para clarificar o real, mas para mostrar o nosso transtorno perante a sua existência: assim, a leitura de um livro de poemas será sempre camuflada metáfora de caminho ou de percurso. E é nesse sentido que, afinal, toda a poesia é política, mesmo quando não alude à consciência de um tu, de um outro, na berma de cada indivíduo. A questão está em como transformar essa força interna da poesia em força e consciência colectiva. Sobrepõe-se, no tempo presente, uma descrença no pequeno poder da poesia, associado a um esvaziamento da própria linguagem, que cada vez mais se expõe sem memória, sem matriz, sem raiz. Por isso, só por isso, é preciso re«aprende[r] a cuspir», é preciso aprender a traçar um caminho, mesmo onde ele não existe.