«Refazer um curso de vida na existência de um homem não constitui jamais tarefa fácil. No caso de Rousseau, a empresa torna-se ainda mais difícil, mercê do desvelo com que a pretendeu facilitar. Que não se veja aí um paradoxo. Pelo contrário: como a maior parte dos homens que muito discorreram sobre si mesmos, Rousseau viria a torna-se vítima da sua própria lenda e prisioneiro da imagem que de si mesmo soube dar. (…)
 »Quanto ao verdadeiro curso da vida, esquiva-se-nos: entre duas atitudes, suspensas na imobilidade que a glória confere, tudo decorre como se o homem não tivesse vivido. Verificação essa tanto mais decepcionante quanto, para poder apreender os significados profundos a obra de Rousseau, conta menos o conhecimento destes momentos famosos do que a compreensão das grandes correntes e das grandes viragens da existência que os atravessam.»