Ainda que sejam ilustradas por fotografias, estes “retratos”, que têm entre 70 e 50 anos, não são uma foto-biografia de Portalegre ou do bairro operário da Vila Nova. São, antes, retratos que polvilham os sentidos do que o ligou às pessoas e às coisas, desde que se lembra de ter memória, até aos 17 anos. Memórias carregadas de afecto, numa ambiência que lembra o neo-realismo dos bairros pobres, como o foi a Vila Nova, mas também os traços característicos da sua bela cidade, que Régio tão bem soube imortalizar. Mas sempre com o interesse primeiro de contar as histórias centradas nos personagens com que modelou a sua vida, com o foco nos seus pais, que foram, sem sombra de dúvida, quem o tornou uma pessoa melhor.

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DA VIDA DAS FLORES DE PLÁSTICO

As feiras das Cerejas e das Cebolas cumpriam a sua função de fazer de mim cavaleiro de cavalos de madeira em carrosséis, piloto em aviões de lata com comandos para quedas verticais de 2 metros, e intrépido ás do volante em carrinhos de choque, mesmo que sem capacete nem cinto de segurança.
Mas eu tinha um ritual secreto: não deixar acabar qualquer feira sem comprar uma prenda à minha mãe. Para isso ia sozinho no último dia, e os vinte e cinco tostões que ela me dava para as diversões tinham um destino certo, que com o passar dos anos, ainda que poucos, se tornou rotina: comprar-lhe torrão branco de Alicante e massa frita, mas – e o mais importante – também um ramo de flores.