Em O Tempo e o Ser de Sullivan K cruzam-se diferentes géneros e linguagens literárias, nomeadamente, a ficção de matriz fantástico-científica, o romance filosófico, a ficção autobiográfica e até episódicos afloramentos poéticos, que descrevem experiências marcantes da vida de Sullivan K. O eixo central do enredo prende-se com a relação duplamente metafísica - de um lado, um conjunto de reflexões científicas e filosóficas sobre temas de natureza metafísica strictu senso e, de outro, um relacionamento num plano (aparentemente) além da realidade física - entre Sullivan K e Zeldo, uma entidade fantasmática, hipoteticamente alienígena, por vezes encarnada na personalidade de um erudito inglês do século dezanove, de superior inteligência e não menor subtileza, que interage com K, através de estranhos sonhos e de experiências reais, ora no presente, ora no passado. Entre sonhos, realidade, perdas de entes queridos, encontros e despedidas, K reflete sobre a vida, a morte e o tempo: “Sentimos, pensamos, vivemos, enfim, somos imbrincados no tempo, no nosso-tempo; mas também embutidos, quais ínfimas centelhas de inteligência, luzindo, fugazmente, nas noites dos tempos do eterno Cosmos”. Na sua relação mais íntima com os outros e com o Universo, o pensamento, os sentimentos e as emoções de K voltam-se para o tempo passado, o tempo presente e as conjeturas de um conhecimento futuro sobre a natureza, múltipla, do Tempo, entrelaçadas com a demanda, obsessiva, da natureza e propósitos de uma elusiva inteligência alienígena. Na esperança de prolongar a existência na memória e no Universo, Sullivan K presenteia-nos com este livro enigmático capaz de reverberar, mesmo que fugazmente, através do tempo.