Este livro é um olhar radiográfico da História, vivenciada pelo eu-indivíduo e pelo eu-coletivo, com uma narrativa que, não recusando a cronologia, se aparta de ser linear ou mesmo cartesiana, porquanto nos seus interstícios há de se confrontar com retrospetivas e prospetivas, factos incontornáveis e posições de princípio, algumas quase doutrinárias.
As radiografias fazem retratos vários sobre a construção do Estado nos primeiros anos da soberania nacional cabo-verdiana, com um pequeno balanço sobre a área da Defesa e da Segurança. Desse período, o Autor releva a tensão interna no PAIGC, em 1979, ao golpe de Estado na Guiné-Bissau, em 1980, e a criação do PAICV, em 1981, sem deixar o reparo da aprovação da primeira Constituição da República, em 1980. Os anos em que ocupou a pasta governativa como Ministro dos Negócios Estrangeiros foram marcantes e ocupam grande parte deste livro. Foram anos de muita aprendizagem e de grande reorientação da política externa cabo-verdiana. Dos vários dossiers abraçados, realça-se o do Processo de Paz na África Austral, em que Cabo Verde teve notável papel de facilitador das rondas negociais, destacando os encontros secretos na ilha do Sal e na ilha de São Vicente que, em muito, contribuíram para a retirada dos sul-africanos de Angola, o Acordo de Paz envolvendo angolanos, sul-africanos, cubanos e norte-americanos, a independência da Namíbia e o paulatino desmantelamento do regime do apartheid na África do Sul.
O livro dá conta de momentos-chave como o da assinatura da Acta de São Vicente, em 1984, e da assinatura do Memorando de Cessar-Fogo, em 1988, no Sal, que ficam nos anais da História e relevam a enorme participação de Cabo Verde como país útil na arena internacional. Também discorre a narrativa sobre vários dossiers, até então de circulação reservada e, seguramente, desconhecidos do grande público.