O PRIMEIRO LIVRO DE CRÓNICAS DO AUTOR

A camonina Piscosa, tesouro em segredo que a Europa ameaça agora descobrir, foi lugar espiritual de António Telmo e Agostinho da Silva a que Pedro Martins presume também pertencer. Nesta sua nova obra, a metáfora do título, colhido em dedicatória manuscrita por Orlando Vitorino, abre como porta para o infinito, entre o apelo das horas e a evocação das imagens.

«Durante anos, como já aqui vos disse, impetrei, sem sucesso, ao António Reis Marques a vilania sesimbrense, fiado nos pergaminhos que julgava possuir. Pois teve de ser o Presidente Augusto Pólvora a conceder-me o título há bem pouco, nas linhas discretas, mas inequívocas, de um seu editorial. Tomei por indelével caso sério a concessão oficial, vinda, como veio, a distinção de alguém que ama veramente a sua terra. Mas foi ao ver desfilar perante mim, naquela tarde de sábado, a Fortaleza renascida, a torre egrégia da Igreja Matriz, o elegante Hotel do Mar, o bulício pressentido na Califórnia e na Avenida dos Náufragos, o edifício da capitania, a pérgula do Largo da Marinha, o cume de Argéis e o outeiro de Palames, o alçado castelo roqueiro, o pesponto dos moinhos nas cumeadas, o avanço ridente do farol para as bandas de São Teodósio, os remates modernos em que a vila se adentra ou extrema, que mais senti o peso da nomeação, sortilégio de primeira vez. E quando julgava que o regaço da doca desde logo me afagaria o regresso, o António Miranda surpreende-nos com nova partida, nova viagem, numa breve incursão ao Ribeiro de Cavalo, praia agora incensada nos areópagos, como aliás a da Foz, lá mais para a frente…»

Pedro Martins