Não estamos perante uma preguiçosa “aplicação” académica da psicanálise à análise dos filmes, como também não encontramos aqui o cinema reduzido a uma banal “ilustração” de conceitos colhidos na história plural da psicanálise. O diálogo, porque é disso que se trata, envolve uma postura de pensamento, de uma só vez espiritual e sensorial (qual a diferença?...), em que o cinema se reinventa no próprio labor de interpretação que suscita ou pode suscitar — no limite, cada filme é ou pode ser um acontecimento narrativo, concreto e abstracto, em que deparamos com a dificuldade de dizermos o que somos, e como somos, no mundo que habitamos.
JOÃO LOPES
Poderíamos começar perguntando o que a psicanálise teria a dizer sobre o cinema? Em vez disso, a proposta que se mais afinaria à escuta clínica seria investigar: o que a psicanálise pode aprender com a produção cinematográfica? E, por sua vez, a ficção tem uma dimensão vital na escuta psicanalítica, ou seja, a ficção entendida como uma matriz interpretativa da ação humana. Algo que se aproxima dos processos de metaforização, que fazem movimentar o inconsciente e põem à mostra o que há de mais singular do sujeito. Refazendo o primoroso circuito temático do livro, o filme inaugural trata da Gravidez, que é a constituição do ser humano, finalizando com Gravidade, peso necessário ao nascimento do corpo e da vida.
MAGDA GUIMARÃES KHOURI