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Sinopse

São várias as minhas pátrias:

Wachau, no outono. O Danúbio sob a névoa que um batelão torna mais espessa. E rápida. Os meus olhos. Na sua estação única. Há um nome distante e sem regresso: o verão. Esta é a pátria dos nomes sem regresso. Vai de Grein a Krems. De Melk a Mautern. Tem duas margens, três ou quatro pontes. E um rio perdido entre nascente e foz.

Depois de Castelo Branco, até à serra da Estrela. A pátria de uma das minhas infâncias. De metade de todos os meus nomes. Os da terra. Que proliferavam. Uma coisa era sempre nova. Um nome acrescentava a outro uma espécie de alegria. Dizê-los. Ligavam-se pelo olhar perguntador e formavam extensas frases. As mais extensas da vida. Gosto da memória da infância. De a escrever. Porque as palavras ainda não tinham encontrado a denúncia. Nem a traição. Avô, como se chama esta árvore? E esta pedra? E este bicho? E a palavra única surgia, da indiferença de todas as árvores, de todas as pedras, de todos os bichos. Um pássaro, de todos os pássaros. Entre a Gardunha e a Estrela, a pátria tinha o tamanho de uma casa, via-se onde começava e acabava, apanhávamos rãs nos seus ribeiros e cágados nos seus poços. Armávamos aos pássaros, sob as oliveiras. E ouvia-se a morte no som dos costilos a fecharem-se. Meus avós estavam parados na eternidade da velhice. E o tempo era uma repetição fulgurante.»


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Autor

Rui Nunes

Rui Nunes nasceu em Lisboa. Licenciou-se em Filosofia na Universidade de Lisboa e é autor de uma obra em ruptura com as tradições narrativas da sua geração. De Rui Nunes a Relógio D’Água publicou Quem da Pátria Sai a Si Mesmo Escapa? (1983), Sauromaquia (1986), Osculatriz (1992), Álbum de Retratos (1993), Que Sinos Dobram por Aqueles Que Morrem como Gado (1995), Grito (1997) — Grande Prémio de Romance e Novela APE, Cães (1999), Rostos (2001) — Prémio da Crítica atribuído pelo Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários, A Boca na Cinza (2003), O Mensageiro Diferido (2004), O Choro É Um Lugar Incerto (2005), Ouve-Se sempre a Distância numa Voz (2006), Ofício de Vésperas (2007), Os Olhos de Himmler (2009), A Mão do Oleiro (2011), Barro (2012), Armadilha (2013), Uma Viagem no Outono (2013) — Prémio Nacional de Poesia Diógenes 2013, Enredos (2014), Nocturno Europeu (2014) — Prémio Melhor Livro de Ficção Narrativa SPA/RTP 2015, A Crisálida (2016), Baixo Contínuo (2017), Suíte e Fúria (2018) e O Anjo Camponês (2020).

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