Agora que tantos portugueses voltaram a descobrir os encantos da vida no campo, é preciso voltar a ler-se Júlio Dinis. Ainda que a história se centre em Madalena, a morgadinha, uma mulher de carácter forte e virtuoso, o enredo inicia-se com a vinda de Henrique de Souselas, um hipocondríaco de manias citadinas, para casa da tia Doroteia, numa aldeia minhota, por conselho do seu médico. O autor ilustra, assim, uma das suas teses predilectas: o efeito regenerador da vida simples do campo sobre a citadina.
São infinitas as lições de vida que podemos retirar da obra: desde a intriga amorosa, com ciúme à mistura, a honra ferida por injustas calúnias, a crítica social e de costumes. Mas Júlio Dinis glosa também tópicos como o do compadrio, o caciquismo, o recurso à cunha, a corrupção política, o fanatismo religioso.
Venha conhecer as salas de famílias da aldeia; tome um chá na casa do Mosteiro, saboreie uma boa canja na casa de Alvapenha, assista em directo às brigas na casa de Zé P’reira, peça conselho ao tio Vicente sobre a melhor mezinha, tome um copo na venda do Canada e, se é devoto ou tem fé, vá até à igreja, mas deixe-se de fanatismos.
Prometemos um final feliz, como era timbre do autor. Leia-o!
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Júlio Dinis
"Júlio Dinis é o pseudónimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho, médico e escritor (Porto, 14 de novembro de 1839 – Porto, 12 de setembro de 1871).
Estudo: Ana Maria Teixeira Soares Ferreira
Licenciada em Ensino de Português e Inglês pela Universidade de
Aveiro, é docente e adjunta da Direção do Agrupamento de Escolas
de Ovar Sul.
Mestre em Literatura Portuguesa pela FLUC, com uma tese sobre a
poesia de Alexandre O’Neill intitulada O Humor Satírico na Poesia
de Alexandre O’Neill: Entre o Exorcismo e o Desafio.
Doutorada em Literatura pela UA, com uma dissertação sobre as
representações da morte em Mia Couto.
Desde 1992, tem lecionado Português, Literatura Portuguesa,
Cultura Portuguesa e Língua Portuguesa nos ensinos básico,
secundário e superior.
Tem-se dedicado à formação de professores de Português,
integrando a bolsa de formadores do Centro de Formação
Intermunicipal de Estarreja, Murtosa e Ovar.
Nos últimos anos, tem vindo a participar em várias iniciativas
culturais da Câmara Municipal de Ovar, destacando-se a colaboração
com o Museu Júlio Dinis – uma Casa Ovarense, com comunicações
e artigos sobre Júlio Dinis.
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Ilustração: Pedro Podre
Nascido em 1988 é um pintor e ilustrador do Porto. Formado na
Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, as suas pinturas
figurativas exploram narrativas sobre a infância, escapismos,
identidade e ansiedades do século XXI. Apropriando-se da lógica
da narrativa das ilustrações e da estética da banda desenhada e
animação, o seu trabalho apresenta alegorias trágico-cómicas
sobre a vida suburbana, medos e incertezas numa era de sobrecarga
de informação."
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