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Sinopse

O tlac impertinente do fecho da porta. Deixa-me que te conte. Não me podes entender, mas deixa-me contar-te. Quero dizer-te as palavras todas porque me lembro bem, sabes, porque a minha memória grita perante o teu esquecimento, assolada pela tua perda que me desampara e me larga sem pé. O meu lembrar é pura sobrevivência de náufrago, em que desesperadamente procuro agarrar-te para me iludir num salvamento impossível. Deixa que te conte: o tlac impertinente do fecho da porta estalou alto no silêncio e no meu sono, esse abismo em que a nebulosa da febre me engolira, nem tão fundo que um ruído não revertesse um pouco a minha inconsciência, nem tão leve que os meus olhos se abrissem como um reflexo. O tlac impertinente do fecho da porta. Ouve-me, quanto mais perdes a realidade, quanto menos percebes quem eu sou, mais o quem fomos me avassala numa iluminação exultante, moldando as ninharias desse passado esfumado em cenas resplandecentes, como se o reavivar da minha memória pudesse combater a ausência da tua. Quem fomos. Quem foste. Como se aquilo que digo te pudesse iluminar por um breve momento o olhar vazio. Ouve-me: Pelo meio da dor de cabeça e da dor de garganta e das dores no corpo, pelo meio do mal-estar, mas também pelo meio desse vogar ainda na névoa do dormir, senti, ao de leve, um caminhar pé-ante-pé até à cama, sim, um pé-ante-pé devagarinho e cuidadoso, e o perfume do aftershave aflorou a minha testa num beijo ténue. E logo de seguida resvalei de novo para esse território misterioso de confusos sonhos em farrapos, numa espécie de delírio.

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Autor

Maria de Fátima Candeias

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