Prefácio

Todos os dias na rua, nos locais que se frequentam, se depara com monumentos e outras formas de expressão plástica. Raramente, porém, se concede um minuto de vera atenção às velhas pedras tisnadas pela poluição e pelo tempo, à vetusta escultura que para ali permanece, à pintura de belo efeito cromático. De casa para o trabalho e vice-versa, ao longo dos anos, através de toda uma vida, deixa-se escapar o cerne da mensagem jacente que o talento produziu para merecer pouco mais do que uma olhadela displicente.
O presente estudo traduz uma reacção contra tal atitude e exprime o resultado de uma observação, que procura ser intelectiva, daquilo que nos rodeia, com o propósito de se captar o seu significado profundo.
Fazemo-lo partindo da perspectiva filosófica em que naturalmente nos inserimos e sem perda do devido respeito por valores tradicionais, mas também sem prejuízo de reputarmos alguns ultrapassados, e sem deixar de se atentar em velhas mazelas, despindo personalidades e instituições das suas roupagens míticas, de modo a ficar patente a miséria das suas grandezas. Agimos sob o impulso do preito pela Verdade, intencionalmente lógica e racional, face à consciência de que «a razão nos une e as verdades nos separam». Subjaz sempre aos factos e pensamentos que se explanam acendrado amor pela pessoa humana, ente maravilhoso prenhe de fatais contradições, mas à beira de as ultrapassar, bastando limar os laivos de primitivismo de que ainda padece.
O Palácio de Justiça do Porto e a área envolvente fornecem-nos ilimitadas sugestões. Tenta-se captar a objectividade do sentido de cada obra de arte, integrando-o no respectivo contexto histórico ou mitológico.
Do trajecto percorrido através da obra de vários historiadores resultou a confirmação do papel essencial destes na compreensão da sociedade humana e de cada um dos seus componentes. Para esses recriadores do passado aqui fica expressão de rendida homenagem e profunda admiração.