Poderá gostar
Detalhes do Produto
- Editora: Poética Edições
- Categorias:
- Ano: 2025
- ISBN: 9789899241121
- Número de páginas: 100
- Capa: Brochada
Sinopse
Ancorado na farpa poética de O’Neill, este último livro de Maria Toscano — o seu 33.º livro de poesia a sair a público — une textos escritos entre 2008 e 2021, abalançando-se a autora alentejana com outra tríade na abordagem do tema ‘SUL’, talvez o tema mais transversal a toda a sua obra. Desta feita, na glorificação do ‘SUL’ por Maria Toscano — ‘coube-me um enxoval de Sul’ (poema da página 55) —, reencontramo-nos com ‘SAL’, entrando em cena, agora, ‘CAL’.
Desengane-se o/a leitor/a; não se está perante um, digamos, ‘saneamento topóico’: nesta obra — a que Poética Edições dá forma no duplo sentido de forma-voz e de formalização como livro físico — mantém-se ‘SOL’. É o elemento de ligação interna (poética e formal) entre ‘SAL e ‘CAL’, se bem que comece por ser a primeira vibração emocional, pois a cor da capa do livro é um ‘amarelinho’ que pode levar-nos até à claridade luminosa da luz do ‘SOL’ do ‘SUL’ e claro, até às casas do Alentejo — embora barradas a um amarelo mais ‘torrado’. Nem texto irónico, nem bucólico ou romântico, pese embora a (orgulhosa?) menção a termos e práticas queridas a alentejanos e todos os amantes do sul da península ibérica. ‘SAL’ e ‘CAL’ são materiais declinados como as palavras do latim, na busca de tudo alcançar no/do ‘SUL’ e, assim, tudo deixar em aberto, como a Vida.
Há um ponto de vista assumido na obra, uma convicção inegociável, a par de se afigurar também como um lastro de esperança no que está por construir: a Vida está por fazer, a Vida está nas mãos de cada pessoa e ‘Sem Amor a vida viva está perdida’ – título do primeiro poema externo às cinco grandes partes que compõem a obra. Devido a esta convicção inegociável é que ‘SAL’ e ‘CAL’ são abordados nos seus antagónicos usos, por exemplo, desde o tempero e os sabores-sentidos (‘SAL’), ou desde a beleza e higiene-traço cultural (‘CAL’), até aos rituais de matar ou ajudar a morrer com dignidade – prática de deitar ‘CAL’ nos corpos antes de fechar os caixões; prática de queimar ou eliminar o mal, recorrendo ao ‘SAL’. Desafio ao leitor: tomar o primeiro poema como uma interrogação e, conhecida a obra, relê-lo com o intuito de dar-lhe a sua resposta. Ou seja: se os Restolhos (último poema, nas páginas 89-90) forem mesmo ressentidos enquanto “...resguardo da trança da entrega / libertária. livre onda de mar.”, talvez a utopia de ‘Sem Amor a vida viva está perdida’ possa devir compromisso entre pensar, dizer, sentir e fazer, quer dizer: talvez a poiesis possa reafirmar-se como o maior repto da Vida.
_
no princípio foi um verbo nascituro:
vir à luz para erguer-se em dois meros membros.
foi pousar plantas dos pés no chão escuro
para aprender a equilibrar todas as partes
todos os lados ângulos metades
– aprender aceitar ser. multiplicidade.
(excerto do poema ""líquidos águas seivas sais e imaginações"", p. 11)