Sinopse
Este livro foi publicado por ocasião da exposição «José Pedro Croft - Prova de Estado»,
com curadoria de António Gonçalves, realizada na Galeria Ala da Frente, em Vila Nova de
Famalicão, de 4 de Junho a 17 de Setembro de 2016.
«Tenho diante dos olhos uma série daquilo que os gravadores denominam prova de estado:
os múltiplos ensaios a que o artista submete a placa de cobre, os ensaios múltiplos a que
a pressão do rolo da prensa submete o papel empapado em tinta. E de novo me surge uma
pergunta: a que se deve a multiplicidade das acções? A que se deve a insatisfação do
artista que, uma e outra vez, como nos textos antigos, diz para si mesmo: não é isto, não
é isto e, nas longas horas de atelier, começa de novo. Que relação mantêm as duas
perguntas: margem e espaço de liberdade, por um lado, e prova de estado, por outro? Pode
haver uma obra de arte que escape à prova de estado? Trata-se de uma prova de quê? De
algo que se pretende definitivo? Acaso uma pretensão, o chegar a uma conclusão ou
perfeição da acção sobre as coisas do mundo? Não me parece que o artista, tal como o
filósofo e também o poeta, possa aspirar a algo mais que o ensaio: a prova de estado. Toda
a sua vida é uma paciente leitura dos gestos da criação, a partir do movimento dos céus,
dos movimentos da natureza e dos estados em que esta larga e abandona os seus seres; um
cuidadoso olhar aos misteriosos animais que, com o seu desassossegado vaivém, nos deixam
ainda mais perto do campo da interpretação; e a vida do artista é também uma combinação
elaborada dos gestos, dos olhares e dos estados de alegria, compaixão, dor e indiferença
que nós, os humanos, esboçamos no dia-a-dia. Sim, uma prova de estado que ponha à prova o
estado da criação, que tome o pulso à vida enquanto só movimento, enquanto dinâmica fiel
do devir, no qual o que acontece em nada se diferencia do mesmo acontecimento.»
Amador Vega