De regresso à sua aldeia, Brodeck retoma o seu antigo trabalho de escrivão. Um dia, um
estrangeiro vai viver para a povoação, mas os seus modos e hábitos estranhos levantam
suspeitas; o seu discurso é formal, faz longas e solitárias caminhadas e, apesar de ser
extremamente cordial e educado, nada revela sobre si próprio. Quando o estrangeiro começa
a retratar a aldeia e os seus habitantes em quadros pouco lisonjeiros mas perspicazes, os
aldeãos matam-no. As autoridades, que assistiram impávidas ao linchamento, ordenam a
Brodeck que escreva um relatório que branqueie o incidente.
À medida que escreve o relatório oficial, Brodeck passa também para o papel a sua própria
versão da verdade numa narrativa paralela. Numa prova ponderada e evocativa, ele entrelaça
a história do estrangeiro na sua própria e dolorosa história e nos segredos sombrios que
os habitantes da aldeia cuidadosamente escondem. Passado num tempo e lugar não definidos,
O Relatório de Brodeck mistura o familiar com o desconhecido, mito e história, num romance
poderoso e inesquecível.
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Philippe Claudel
Philippe Claudel nasceu a 2 de Fevereiro de 1962, em Dombasle-sur-Meurthe, na zona da Lorena francesa, onde cresceu, estudou e ainda vive actualmente.
Por alguns anos na adolescência, Claudel estudou em regime de internato, experiência infeliz, mas que lhe proporcionou um período de leitura intensa. Depois,
em 1981, fez uma primeira passagem pela Universidade de Nancy, que frequentou com pouco entusiasmo, preferindo dedicar-se a outras actividades, como o desenho e a pintura, a escrita de contos e poemas, a participação em curtas-metragens, o montanhismo.
Foi Dominique, a sua futura mulher, quem o inspirou a retomar os estudos, e Claudel regressou a Nancy, onde estudou Literatura Moderna, História da Arte e Cinema. Iniciou então a sua carreira de professor, dando aulas em escolas primárias, em escolas secundárias, em hospitais, em instituições para crianças com deficiência e no centro de detenção de Nancy.
Em 1999, um encontro com o escritor francês, Jean-Claude Pirotte, animou-o a publicar o seu primeiro romance, Meuse l’oubli. No ano seguinte, saiu do prelo, Quelques-uns des cent regrets. Em 2003, o romance Almas Cinzentas conquistou o público, ganhou o Prémio Renaudot, e consolidou-lhe o estilo: o seu olhar incide especialmente nas pequenas comunidades, fora das grandes metrópoles; o tempo e o espaço permanecem difusos, embora num mundo que nos parece sempre próximo da realidade; foca-se no regresso às origens e no distanciamento do passado; aborda o difícil equilíbrio entre a inocência e a crueldade humanas.
Estes são os primeiros de cerca de uma vintena de romances, e mais outra vintena de outros géneros — contos, novelas, guiões, peças de teatro, ensaios — que
estão traduzidos um pouco por todo o mundo.
Em 2001, Claudel concluiu o doutoramento em Literatura Francesa com uma tese notável dedicada ao poeta francês, André Hardellet (1911-1974) e, nesse mesmo ano, foi nomeado professor de Literatura e Antropologia Cultural na Universidade de Lorena.
Em 2007, Claudel publica O Relatório de Brodeck, uma parábola sombria sobre a guerra, a xenofobia, e a memória, numa história sem espaço nem tempo definidos, mas que conseguimos claramente identificar, e onde se pesa à vez a faculdade de o homem renunciar à sua humanidade e a sua capacidade de sobrevivência.
A par da escrita, Philippe Claudel é também cineasta e dramaturgo.
Em 2024, foi eleito presidente da Academia Goncourt.
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