A presente obra, resultante da Tese de Doutoramento, não constituindo um corpus uasorum, pretende, antes pelo contrário, reflectir sobre o papel que os mamíferos tiveram no universo romano, Antigo e, sobretudo, Tardo-Antigo, quando estas representações se impuseram também como motivo preferencial nos mosaicos.
De facto, constata-se uma ambiguidade sócio-cultural, religiosa e económica entre os mamíferos e os diferentes modos de os ver, neste contexto específico plasmados na iconografia dos mosaicos. Por conseguinte, muitos deles surgiram associados a divindades, revestindo-se também de inequívoco valor transcendental, valoração particularmente clara não só quando contribuía para a caracterização da divindade, mas quando, mesmo isolado, remetia inequivocamente para o seu deus tutelar.
No entanto, quando apartados, essa relação subsumia-se à condição de animal uersus homem. Será, portanto, nessa dualidade que se poderá compreender que os mamíferos, em determinados momentos sublimados pelo poder dos deuses, pudessem ser chacinados aos milhares, já desde os tempos da República, em espectáculos públicos. Ou, noutra perspectiva, elevados ao estatuto de “herói”, como, por exemplo, os cavalos vencedores de corridas.