Prefácio

É com o maior gosto que a Biblioteca Diplomática publica um livro esplêndido da autoria de um antigo embaixador francês em Lisboa, Jean-Marie Lê Breton, que aqui esteve entre 1990 e 1992. Nos fragmentos do diário ora publicados, o foco está colocado nessa sua estadia em Portugal, chegado de uma permanência decerto conturbada numa Roménia em pleno pesadelo Ceausescu. Quando, na sequência de um encontro acidental num dos pátios do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o meu bom amigo Embaixador Marcello Duarte Mathias me perguntou sobre um eventual interesse que eu pudesse ter na sua publicação, a minha resposta foi imediata e entusiástica.
É fácil compreender porquê. O período tem uma óbvia importância na história política portuguesa contemporânea. A permanência de Lê Breton em Lisboa coincidiu com vários acontecimentos político-sociais importantes, nacionais e internacionais, de que os segmentos cronológicos do diário vão dando conta, refractado-os. As relações bilaterais entre Portugal e a França não sofreram abalos particularmente significativos neste intervalo, pelo que o carácter lúdico e enxuto das entradas do embaixador sobrevive incólume. Para além de bem escritas, as entradas encadeam-se umas nas outras segundo uma dupla lógica que toca em teclas muitas vezes intimistas, mas nas quais nunca a dimensão política (micro e macropolítica) é deixada de lado; e versam gente, relações, eventos, e desenlaces sobre os quais temos outras fontes de informação de natureza suficientemente diferente para que o ângulo de visão aqui proporcionado lhes seja complementar. Tudo isto se congrega de uma maneira fascinante na pequena obra de autor que o leitor tem entre mãos. [...]