«Como contista, Bábel rivaliza com Turguénev, Tchékhov, Maupassant, Gógol, Joyce, Hemingway, Lawrence e Borges. Tal como eles, é um génio da forma, mas pertence à família de Kafka na particular dicotomia do seu génio. Kafka escreve num alemão purificado que é praticamente idiossincrásico e Bábel é um mestre da literatura russa, mas ambos, misteriosamente, são escritores judeus, ambíguos perante a tradição e alheios a ela.» Génios, Harold Bloom
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Isaac Babel
Isaac Babel nasceu a 13 de julho de 1894, na cidade ucraniana de Odessa, então sob o domínio do Império Russo. Era filho de um vendedor de roupas usadas e de uma judia moldava. O seu tio fora morto num pogrom.
Como escreveu Borges, o «clima habitual» da vida de Babel «seria a catástrofe».
Estudou numa escola comercial de Odessa, dedicando-se também à música e ao Talmude. O facto de não ter conseguido ingressar na universidade levou-o ao Instituto de Finanças e Negócios de Kiev, onde conheceu Yevgenia Gronfein, com quem se casaria anos mais tarde.
Em 1915, terminado o curso, Babel deslocou-se para a atual cidade de São Petersburgo, onde a entrada dos judeus era proibida. Com a ajuda de um empregado de café e de um passaporte falso, ocultou a sua identidade. Foi aí que conheceu Máximo Gorki, publicando alguns contos na revista que este dirigia, Letopis. Um deles, A Janela da Casa de Banho, foi considerado obsceno pela censura.
Nessa época o estilo de Babel começava a definir-se. Era evidente não ter sido em vão que lera Gogol e Maupassant, sendo mesmo capaz de os fundir num universo próprio, feito de ironia e de um tom «deliberadamente amargo».
Babel participou na guerra civil que se seguiu à tomada de poder pelos bolcheviques, em outubro de 1917, trabalhando como tradutor na Cheka, no Comité Bolchevique de Odessa e no Comissariado de Educação. Foi também jornalista em São Petersburgo e Tbilisi.
Casou-se, em 1919, com Yevgenia, que emigraria para França em 1925.
Em 1920 ingressou no Exército Vermelho, num regimento de cossacos, que se espantaram por ver um judeu lutar a seu lado e montar a cavalo tão bem como eles. A rude crueldade do regimento seria narrada por Babel no seu Diário de 1920, onde escreveu que acompanhar os cossacos era «como assistir a um funeral interminável».
Em 1924, algumas das suas histórias, mais tarde incluídas em Exército de Cavalaria, foram divulgadas na revista LEF, do poeta Maiakovski.
De regresso à cidade natal, Babel escreveu Contos de Odessa. São narrativas de inspiração autobiográfica sobre a sua infância no gueto de Moldavanka, antes e depois da Revolução de Outubro. A história de Bênia Krik, o judeu rei dos gângsteres da cidade, é de uma exuberância inigualável.
Em 1930, Babel testemunhou na Ucrânia a brutalidade e as mortes causadas pela coletivização forçada da agricultura. No Congresso da União de Escritores Soviéticos, em 1934, um Babel marginalizado pelo realismo socialista observou que estava a tornar-se «um mestre de um novo género literário, o género do silêncio». No ano seguinte, a sua peça Maria viu a estreia em Moscovo cancelada pela polícia política.
Nos anos seguintes, já a viver com Antonina Pirozhkova, Babel colaborou com Eisenstein e trabalhou em diversos filmes.
Em 1939, foi preso na sua dacha, em Peredelkino, e interrogado sob tortura na prisão do KGB em Moscovo.
De acordo com a versão oficial, Babel morreu numa prisão do Gulag em março de 1941. Os seus manuscritos foram confiscados e destruídos. Mas a abertura dos arquivos do KGB indica que terá sido morto a 27 de janeiro de 1940.
A sua palavra perdura nos quase sessenta contos que escreveu; a sua vida, no Diário de 1920 e nas memórias da sua segunda esposa, Antonina Pirozhkova.
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