Ambientado no início do século 20, Cantagalo conta a trajectória de uma família brasileira marcada por um casamento arranjado incomum, entre a herdeira de uma fazenda de café e o filho de uma escravizada. Em ordem não-cronológica, a obra vai e vem na história do casal, das suas descendentes e dos seus agregados para se aprofundar nos desdobramentos sociais e psicológicos da forma social escravagista, feridas que permanecem abertas no Brasil actual.

Nas palavras do crítico literário António Carlos Cortez, «Cantagalo é um romance de família, com Praxedes, nome obtuso, como centro da ficção. O que atravessa o livro como rio subterrâneo é não só a condição feminina e a questão da escrita, mas a própria condição do livro como possibilidade de escapar a uma vida vazia, concreta, feita de cenas sem sentido nesse lugar – Cantagalo – que é alegoria do Brasil. Tudo numa dicção autêntica, um modo de pôr as personagens a falar que lembra, de facto, um outro mundo.