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Sinopse
As obras destes dois pintores configuram um campo híbrido, um território que leva a repensar a natureza das coisas, dos objectos, dos fenómenos da natureza, da arte, das suas matérias, exercícios e metodologias.
Combinando arte, investigação e documentação, o trabalho de Júlio Pomar é enformado por um património crítico
que lhe permite abordar a natureza descontraidamente, sem pretensões de apresentar um conhecimento moldado pelos pressupostos da ciência. Natureza, olhar científico e olhar artístico conjugam-se num discurso que ultrapassa as determinações disciplinares e garante um resultado final revelável em diferentes camadas de informação.
Em diálogo com a obra de Júlio Pomar, de Hugo Canoilas mostra-se um extenso corpo de trabalho que o artista tem
desenvolvido nos últimos anos em torno de uma figuração por vezes pré-histórica ou pré-apocalíptica, e por vezes pós-apocalíptica, numa espectacular tentativa crítica de pensar sobre a sociedade, sobre a relação com a arte e com a natureza através da arte.
O que implica a criação? E a percepção? Qual é a verdade da natureza e quais são as origens do fazer artístico?
No diálogo O Declínio da Mentira, Oscar Wilde sublinhava que «quanto mais estudamos a Arte, menos nos interessamos pela Natureza». […]
As obras destes dois pintores configuram um campo híbrido, um território que leva a repensar a natureza das coisas,
dos objectos, dos fenómenos da natureza, da arte, das suas matérias, exercícios e metodologias. A arte em geral faz equacionar os modos de ver e percepcionar a realidade, implicando o observador numa participação construtiva. A relação entre arte e natureza, entre forma viva e forma artística, revela-se então num espaço de inteligibilidade capaz de esclarecer, heuristicamente, a própria forma do pensamento.
Foi neste âmbito lato que a exposição ultrapassou a temática explícita nas obras —animais selvagens e domésticos, existentes e extintos — para permitir um outro domínio de reflexões mais abrangentes, particularmente associado às questões da sustentabilidade, da tecnologia, das possibilidades da vida na Terra e, não menos importante, do tempo.
[Sara Antónia Matos]