Vivi na Universidade durante a segunda metade da minha vida. Participei num momento exaltante: a liberdade quebrava com estrondo as cadeias do proibido. A história económica e social, a história contemporânea e outras disciplinas, até então recusadas, entraram nos currículos. Deixou de haver autores malditos. Por vezes, os malditos tornaram-se benditos. As aulas ferviam de vida.

Sem o estudo das línguas e da cultura dos povos, sem a história, a sociologia, a arqueologia, a arte, a literatura, olhamos não vemos a beleza do mundo. "As línguas são o melhor espelho do espírito humano e a análise exacta do significado das palavras é a melhor maneira de conhecer as operações do entendimento", escreveu Leibniz.

Sem a aprendizagem das humanidades, nem sequer sabemos que não vemos. Na Universidade aprendi e ensinei questionando e investigando. A História faz-se submetendo à crítica os saberes estabelecidos. A matéria-prima usa os documentos e os testemunhos, mas é preciso aprender a lê-los, sabendo que sempre algum sentido nos escapa.

A minha dívida para com os milhares de alunos, de todos os quadrantes, que se cruzaram no meu caminho, é esmagadora.

[António Borges Coelho]

O Professor António Borges Coelho, fundador e primeiro presidente do ICIA, inspira-nos pelo rigor do seu pensamento, pela sua paixão pelo conhecimento e pelo compromisso inabalável com a liberdade e a justiça. A sua obra historiográfica, poética e cívica é testemunho de uma vida dedicada a iluminar as sombras da nossa história, a questionar verdades estabelecidas e a valorizar a pluralidade das experiências humanas.

Assinalando os 30 anos do ICIA, este livro reúne ensaios e memórias que refletem a diversidade e a riqueza do legado de António Borges Coelho. A sua abordagem original, aberta à interdisciplinaridade e à renovação dos métodos historiográficos, influenciou profundamente o campo da história em Portugal. Mais do que uma homenagem, este livro é um convite à continuidade do diálogo crítico e criativo que ele sempre promoveu e uma reafirmação do compromisso do Instituto de Cultura Ibero-Atlântica com a construção de pontes entre culturas, gerações e saberes.

[Maria da Graça A. Mateus Ventura]

Associação cultural de direito privado, sem fins lucrativos, sedeada em Portimão, o ICIA tem impulsionado a cultura e a inovação através de experiências de valor para a cidadania cultural, em domínios tão diversificados como a história, a literatura, a música, a gastronomia ou o turismo cultural e literário promovendo para o efeito colóquios, conferências, comunidades de leitores, leituras literárias encenadas, tertúlias e jantares literários, viagens culturais (Andaluzia, Marrocos e Brasil), cursos de mestrado (FLUL e UALG) e edições, apresentando aos associados e à comunidade propostas de valor com rentabilidade social e cultural.

Promovemos de forma inovadora o estudo e divulgação da história e da cultura ibero- americana cuja matriz é, também, lusófona, assim como a interculturalidade mediterrânica. Desenvolvemos uma atividade de mediação capaz de estimular o cosmopolitismo, entendido como abertura a outros mundos promovendo a circulação de ideias e a recriação de imaginários.