O ideário e a ética anarquistas obtiveram desde cedo eco junto dos escritores e outros artistas portugueses. Desde Proudhon, que teve em Antero de Quental e Eça de Queirós leitores interessadíssimos, às gerações seguintes, em que se salientaram figuras como Jaime Cortesão, Campos Lima ou Pinto Quartin, com os escritos de Bakunin, e principalmente Tolstói, Reclus, Kropótkin, Malatesta. Nomes que entraram nos meios operários e na respectiva imprensa, em que irão fulgurar Manuel Ribeiro, Neno Vasco, Julião Quintinha, Assis Esperança, Jaime Brasil, Ferreira de Castro, Mário Domingues, João Pedro de Andrade e Roberto Nobre, entre outros, todos com obra para lá dos jornais - umas que perduram, outras caindo no esquecimento -, sem esquecer afinidades mais ou menos próximas, que aqui são também abordadas, de Raul Brandão a José Régio. Este número dos Cadernos Nova Síntese congrega estudos sobre alguns destes autores, que se pautaram pelo inconformismo e a insubmissão, esperando constituir-se como ponto de partida para uma abordagem mais sistematizada e completa, ocupando o seu lugar entre o Realismo oitocentista e o Neo-Realismo, de que foram, em alguns casos, contemporâneos.
[RICARDO ANTÓNIO ALVES]
Ler mais
António Mota Redol
Desde jovem, militante da Resistência contra o fascismo, a cidadania activa faz parte da sua forma de viver. Tem a herança genética de um dos grandes vultos da literatura neo-realista em Portugal, mas ao contrário do pai, Alves Redol, António Mota Redol nunca enveredou pela escrita literária. Formou-se em engenharia química no Instituto Superior Técnico. A Liberdade, a Cultura e a Memória estão desde sempre no centro da sua vida. É um homem discreto e de uma modéstia cativante.
1. Nasceu e viveu em Lisboa, hoje vive na Costa da Caparica, mas continua ligado a Vila Franca de Xira, o lugar que costumava visitar nas férias e fins-de-semana.
António Redol aproximou-se da Cultura muito naturalmente. Não precisou de qualquer incentivo do pai. Conta que em miúdo ouvia referências a livros e a obras de arte e que foi assim que despontou a sua curiosidade. Recorda-se de ver o pai escrever e leu todas as suas obras. Um dos livros foi-lhe dedicado: “A vida mágica da sementinha”. Depois disso, a semente da Liberdade ficou com ele até aos dias de hoje.
Iniciou as suas actividades políticas na Crise Académica de 1962, então como aluno do Instituto Superior Técnico, em acções de propaganda, no desempenho das quais foi detido pela PSP, sendo transferido para a PIDE.
Nos anos lectivos de 1962/64 foi responsável da propaganda na Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST) e pertenceu ao secretariado das Reuniões Inter - Propagandas, estrutura federativa directamente ligada às Reuniões Inter-Associações (RIA). Em 1963/64 foi eleito Delegado de Curso. Em 1964/65 foi de novo eleito Delegado de Curso e pertenceu à Direcção do Cine-Clube Universitário de Lisboa.
Em 1965/66 foi eleito Presidente da AEIST, tendo sido eleito Vice-Presidente no ano seguinte. Em 1967/68 foi eleito Presidente do Conselho Fiscal.
Pertenceu à Direcção do Centro Desportivo Universitário de Lisboa (CDUL), estrutura cuja Assembleia Geral era dominada pelas Associações de Estudantes.
Foi membro fundador e da Direcção do Centro Popular Alves Redol, em Vila Franca de Xira, cooperativa que foi encerrada pelo Ministério do Interior em 1972, na sequência da luta das cooperativas culturais contra o Decreto-Lei 520/71. Em 1973 foi fundador da Cooperativa Alves Redol, em cujos Corpos Gerentes participou sucessivamente.
Entrou para a CDE durante as eleições de 1973, voltando a ser detido em acções de propaganda. A partir dessa data, assegurou colaboração contínua naquela organização política até ao 25 de Abril.
Ler mais