A publicação destas páginas autobiográficas inéditas esclarece, pela primeira vez, muitos dos aspectos mais importantes da vida e da personalidade de Calvino: a sua infância, a sua luta ao lado dos partigiani durante a Segunda Guerra Mundial, a sua militância política no comunismo e o posterior afastamento e consequente decepção, as relações com os escritores da sua época e o caminho que o levou à literatura.
A primeira parte do livro pertence a uma pasta guardada até agora e que, com o título «Páginas Autobiográficas», vai até 1980. Completam o presente volume, ilustrado com várias fotografias, dois textos íntimos e reveladores: «Um Eremita em Paris» e «Diário Americano» (1959-1960).
O primeiro é uma delicada dedicatória cheia de amor a Paris, cidade da qual não se afastaria ao longo de quase toda a sua vida, e de que se iria apropriando através da leitura de muitos livros inesquecíveis: Os Três Mosqueteiros, Os Miseráveis, Baudelaire, Balzac, Proust… Aparentemente, o «Diário Americano» é uma série de cartas enviadas a um amigo sobre as impressões e experiências da sua viagem. Mas não é só isso: a curiosidade, a sensibilidade, a ironia, a análise ilustrada, simultaneamente benévola e severa, reflectem-se no olhar lúcido de Calvino sobre aquela sociedade de há mais de trinta anos, oferecendo ao leitor um fresco divertido, crítico e, em muitos aspectos, muito actual de uma sociedade variada e contraditória como era - e é - a americana.
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Italo Calvino
Jornalista, contista e romancista italiano, Italo Calvino nasceu a 15 de Outubro de 1923 em Santiago de Las Vegas, na ilha de Cuba. Ainda criança acompanhou os pais na sua mudança para São Remo, em Itália. Em 1940, e em consequência da deflagração da Segunda Guerra Mundial, Calvino foi recrutado para a Mocidade Fascista, mas desertou pouco tempo depois, refugiando-se nas montanhas da Ligúria, onde se juntou à Resistência Comunista.
Pôde, no entanto, ingressar no curso de Literatura da Universidade Turim em 1941 mas, e com uma passagem pela Real Universidade de Florença, só conseguiu licenciar-se após a guerra, em 1947. Nesse mesmo ano publicou o seu primeiro romance, com o título Il sentiero dei nidi di ragno (1947). A obra remetia para as suas experiências enquanto ativo da resistência italiana e foi bem acolhida pela crítica, sobretudo devido aos trejeitos que Calvino dava à narrativa.
Em 1949 publicou uma coletânea de contos, também dedicados à problemática de guerra, que haviam já aparecido em publicações periódicas. A colaboração de Calvino com a imprensa havia começado em meados de 1945, no jornal comunista L'Unittá , prosseguindo em títulos como Il Garibaldino, voce della Democracia e La Republica .
Após a publicação de Il visconte dimezzato (1954), o autor abandonou o tema da guerra recente, preferindo o absurdo e o fantástico ao neo-realismo com que havia pautado o seu trabalho. A obra, que inaugurava uma trilogia também composta pelos volumes Il barone rampante (1957) e Il cavaliere inesistente (1959), e que causou fortes polémicas no seio do Partido Comunista Italiano, contava a história de um homem mutilado por uma bala de canhão durante a tomada de Constantinopla.
Calvino procurava assim demonstrar o seu desagrado perante o partido, que abandonou após os acontecimentos da Primavera de Praga. Sentiu que o seu esforço literário era mais necessário na imprensa, pelo que se passou a concentrar mais na carreira como jornalista do que como romancista.
Em 1959 viajou pelos Estados Unidos da América, formulando um contraste com a sua visita à União Soviética em 1952. De regresso, começou a editar a revista Il Menabó Di Letteratura , em colaboração com Elio Vittorini. Mantendo sempre um olhar crítico sobre a sociedade, entrelaçada na consciência individual e na inércia dos eventos históricos, publicou Marcovalco(1963), uma coletânea de fábulas em que criticava o modo de vida das cidades, destrutivo e vazio. Marcovalco era apresentado como um homem de família sonhador que, permanecendo na sua cidade durante o mês de Agosto, quando todos os outros habitantes partiram para férias, vê o seu descanso ser interrompido por uma equipa de televisão que o quer entrevistar, precisamente por ter sido o único a renunciar às estâncias balneares.
Em 1972 publicou Le Cittá Invisibli , romance em que o lendário explorador Marco Polo se dedicava a contar histórias de cidades fictícias para o divertimento de Kublai Khan, e que valeu ao autor o conceituado Prémio Felrinelli. A sua obra mais conhecida, Se una notte d'inverno un viaggiatore (Se numa Noite de Inverno um Viajante ) apareceu em 1979. Palomar (1983), descrevia as contemplações filosóficas de um homem aparentemente simples.
Italo Calvino faleceu a 19 de Setembro de 1985, em Siena, vítima de uma hemorragia cerebral.
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