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Detalhes do Produto

Sinopse

Daniel Tércio: «Eis portanto esta mulher, senhora de esmerada educação, que almejando romper o lugar subalterno do casamento com um “herói” da nação foi capaz de enfrentar a rutura matrimonial, para dançar no contexto claustrofóbico de uma sociedade de homens em que só a ditadura política lhe parecia viável.»

Em Páginas da Minha Vida, a autora Carmen de Brito duplica-se autobiograficamente como Madame Britton, aplicando ao apelido Brito, que recebera do marido, uma conveniente sonoridade britânica. O livro desvenda justamente essa heteronomia registando os dois nomes na capa. Além da data da edição (1964), não existem muitas outras informações técnicas. Desconhecemos a tiragem, bem como a autoria das fotografias. Na última página ficamos a saber que a obra foi composta e impressa nas oficinas gráficas dos irmãos Bertrand. A fluidez do texto, de toada diarista, a que porventura faltou uma revisão técnica profissional, aponta para uma edição de autor com uma distribuição possivelmente assegurada através de ofertas a amigos e a gente influente na intelectualidade e artes do Estado Novo.

O título e o estilo da escrita lembram, quase obrigatoriamente, o livro de Isadora Duncan, Ma vie. Isto mesmo faz notar José Estêvão Sasportes, que atribui a Carmen de Brito «temperamento duncaniano». Mas, na verdade, é hoje difícil identificar Carmen de Brito com o ideal de uma dança consonante com os ritmos da natureza e da mulher livre que Duncan cultivou. Quando muito, pode adivinhar-se em Carmen um gosto pela cultura grega, pelo menos na escolha das túnicas com que vestia as suas jovens alunas.

[…]

Carmen de Brito foi certamente uma personalidade complexa, não hesitando nas escolhas que fez — nomeadamente a sua dedicação à dança —, mas ao mesmo tempo preocupada em manter as aparências de esposa e mãe dedicada, cumpridora da vontade do marido — que a deixou. De certo modo, se cada pessoa é ela própria e as suas circunstâncias, Carmen de Brito acabou por se submeter mais ao peso das circunstâncias da época em que viveu do que à força da sua própria personalidade. Ou então não: foi ela mesma, um bocadinho vítima, outro bocadinho incansável professora, num permanente equilíbrio entre a mulher livre e viajada e a esposa doente e abandonada. De certo modo, ela colocaria lado a lado as duas identidades: a de Carmen, filha e esposa fidelíssima, primeiro ao pai (bibliotecário na corte espanhola) e depois ao marido (militar), e a da Madame Britton, amante da beleza, da arte, viajante e culta.

[Daniel Tércio]

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Autor

Carmen de Brito (Madame Britton)

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