“Mas o verdadeiro delírio da criançada, e não menos dos seus pais rebentava, quando o megafone anunciava o Palhaço Tonto! Bastava aparecer no início da pista a pontinha do seu nariz comprido e distraído, e já todo o público parecia deitar abaixo as bancadas com tanta gargalhada. É que já se sabia: logo a seguir àquele nariz comprido vinha uma cara muito patusca e um olhar que parecia fazer cócegas! Ele não precisava de dizer nada para que toda a gente encontrasse, na sua expressão, a mais engraçada e bem contada anedota!”

Este livro transporta-nos ao mundo mágico do circo, onde todos os seus artistas têm de estar sempre prontos para nos servirem abonadas doses de alegria, diversão e fantasia. Se temos um bilhete para a sessão, nem tão pouco se admite a possibilidade de se poder desfrutar de menos espetáculo, por razão alguma. Só quando o megafone anuncia a não vinda do Palhaço Tonto, por ter perdido a graça, é que ocorre pensar que do outro lado da pista estão, afinal, seres humanos com preocupações, sentimentos, motivos de alegria e de tristeza, iguais a qualquer um dos espectadores.
Para uma criança, ter um pai palhaço, ainda agravado se for pobre ou tonto, não é fácil de encarar, sobretudo porque frequentemente funciona como pretexto para ser humilhada. Depois, já se sabe, o ciclo já o conhecemos: porque é humilhada, fica mais vulnerável; porque é mais vulnerável, mais estimula a humilhação… e pouco tempo depois descobrimos, espantados, mais um caso de “bullying”!
É importante que os nossos pequenos entendam a função das diferentes profissões para que sejam capazes de distinguir a diferença entre um emprego/ocupação, que para ser bem desempenhado obriga à representação de um papel, e a pessoa que está por trás desse desempenho temporário.